O Tribunal Penal Internacional indiciou o líder sudanês por crimes de guerra e contra a humanidade. Milícias com o apoio de seu governo teriam levado adiante o massacre de 300 mil pessoas, no segundo maior genocídio em andamento no mundo. Afinal, Darfur pelo menos conta com enorme simpatia internacional. Já o Congo, onde mais de um milhão morreu, poucos se interessam. Não que deveríamos diminuir nosso foco em Darfur. Mas deveríamos ampliá-lo para o Congo.
O dia do Holocausto também coincide com a convenção contra o terrorismo nuclear organizada por Barack Obama em Washington, onde estou. Talvez o maior risco de genocídio hoje no Ocidente seria o de uma organização como a Al Qaeda colocar as mãos em uma arma atômica, ainda que suja, e a utilize em grandes centros populacionais como Nova York ou Londres. Seria o genocídio imediato, com a morte de milhares de pessoas em minutos, similar ao realizado pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagazaki, e diferente do sofrido por armênios e judeus, que durou anos. Não digo que um seja pior ou melhor. São genocídios, simplesmente.
O presidente americano, conforme escrevi aqui outro dia, também poderia dar um passo adiante na luta contra o genocídio e reconhecer o Holocausto dos armênios. É inaceitável, nos dias atuais, que os EUA e outros países, incluindo Israel, tenham medo de colocar em cheque as suas relações com a Turquia e condenem o primeiro grande genocídio do século 20. O Líbano mantém ótimas relações com Ancara sem deixar de reconhecer o Holocausto armênio. O líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, também deve ser condenado neste dia do Holocausto. Ele coloca em dúvida este episódio - não o nega formalmente - apenas para provocar Israel em uma ação que beira o anti-semitismo. E, claro, Bashir segue firme e forte no poder.
Obs. Peguei ontem um trem na Penn Station, em Nova York, e vim para Washington. Como sempre, não passei por detector de metal e minha bagagem não foi inspecionada por um aparelho de raio-x. Nem a minha, nem a de nenhum dos centenas de viajantes. Facilmente, quatro terroristas poderiam ter embarcado com as suas malas repletas de explosivos e os detonado no centro de uma destas cidades. Enquanto isso, Obama discute o terrorismo com outros 46 líderes internacionais, milhares de pessoas tiram os sapatos no aeroporto, outros jogam a pasta de dente no lixo e o babaca de Qatar faz piadas infelizes depois de fumar no banheiro.
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Perfil (a ferramenta ao lado não funciona) - O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009