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De Beirute a Nova York

De Beirute a Teerã - Árabes rejeitam Irã nuclear

Não são apenas os americanos, israelenses e algumas nações europeias que não querem um Irã nuclear. A maioria dos árabes também afirma que a região seria mais segura sem o regime de Teerã desenvolver uma bomba atômica, de acordo com pesquisa do Instituto Zogby, um mais importantes dos Estados Unidos, em parceria com o Instituto Árabe-Americano. 

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Por gustavochacra
Atualização:

Os árabes, em sua maioria, se precisassem optar, escolheriam o Egito, e não o Irã, para ter uma arma atômica na região, segundo o mesmo levantamento. Não vou entrar no detalhe dos números, que podem ser vistos no site da entidade. Há variações de país para país e mesmo entre as religiões em nações sectárias como o Líbano, Bahrein e Iraque. Tampouco vou me aprofundar, como já fiz em outros posts, na questão de o Irã estar ou não desenvolvendo este arsenal. 

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O importante é notar que não existe consenso sobre o papel do Irã. Para alguns, o regime iraniano é prejudicial por interferir na política doméstica libanesa, armar organizações palestinas, apoiar o regime de Bashar al Assad, incitar a oposição em Bahrein e sabotar a estabilidade iraquiana. Para outros, o Irã é positivo justamente por estes mesmos motivos e serve de contra-peso a Israel na região.

Os que defendem um Irã poderoso tendem a ser os xiitas do Líbano, do Iraque (algumas facções) e de Bahrein, além dos simpatizantes do regime de Assad e do Hamas. Já os que preferem ver Teerã enfraquecidos são a Arábia Saudita, a Jordânia, o Fatah, o Egito e grupos sunitas ligados a Saad Hariri no Líbano.

Estas variações se devem a questões sectárias, tanto que a pesquisa dividiu os libaneses por religião e as diferenças nos resultados entre sunitas, xiitas e cristãos chama a atenção. Além disso, os "árabes" não são todos uma coisa homogênea. Existem distinções não apenas religiosas entre eles, como também históricas e culturais. 

A Arábia Saudita é mais conservadora. As mulheres não podem dirigir. Em Beirute, existem bares gays e meninas usam biquinis na praia. Os palestinos lutam para ter um território para seu Estado. Abu Dhabi busca usar seu fundo soberano para investir em private equity em mercados emergentes como o Brasil. O Qatar desenvolve sua presença nas comunicações árabes através da Al Jazeera. Sírios, iemeninas, líbios e bairenitas enfrentam conflitos civis. Egípcios e tunisianos querem se democratizar. O Marrocos fez reformas. A Jordânia, queridinha do "Ocidente", apenas maquiagem. Os libaneses têm tantos problemas para resolver que não sobraria espaço neste post.

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Os sauditas e algumas nações do golfo nunca foram otomanos. Tampouco eles tiveram contato com cristãos. No Líbano e na Síria, igrejas fazem parte da paisagem. No Egito, há deserto. Os libaneses, por sua vez, têm o fértil vale do Beqaa e pistas de esqui. Dubai também, mas dentro do shopping. Em comum, eles têm a língua árabe, apesar de suas variações regionais.

Isso para ficar apenas nos árabes. Os iranianos não são árabes. Mahmoud Ahmadinejad, monoglota em persa, não conseguiria se virar para pegar um táxi em Beirute porque não fala nada de inglês, francês e, acreditem, árabe. É meio bizarro ver o regime de Teerã se achar protetor do mundo árabe. Não é. Trata-se apenas de um rival, na melhor das hipóteses, a não ser para algumas facções no Líbano, Iraque e Bahrein. Além claro, da Síria. Pelo menos, por enquanto.

Boicote do nadador iraniano

Um nadador iraniano não quis competir contra um israelense no Mundial de Natação na China. Esta não foi a primeira vez que um atleta do Irã se recusou a competir contra um de Israel, seguindo as ordens do regime de Teerã. Tampouco a primeira vez que o esporte é usado para questões políticas. Os EUA boicotaram as Olimpíadas de Moscou, em 1980, assim como outros países. Os soviéticos e seus aliados fizeram o mesmo em Los Angeles, 1984. A África do Sul foi banida de competições internacionais devido ao regime de Apartheid. Alguns jogadores da Holanda se recusaram a disputar a Copa do Mundo da Argentina em 1978. Agora, algumas entidades defendem que o Irã seja banido de competições internacionais até que seus atletas concordem em competir contra Israel. 

Obs. Escrevi pelo iPad, que faz correções sozinho. Por favor, me avisem se virem erros

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios 

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