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De Beirute a Nova York

De Jerusalém a Damasco - Queda de Assad seria perigosa para segurança de Israel

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Por gustavochacra
Atualização:

Israel e Síria vivem em estado de guerra desde a fundação dos dois países. Por três vezes, se enfrentaram diretamente. Atualmente, o foco da disputa se concentra nas colinas do Golã. Ocupado pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o território sírio foi anexado no início dos anos 1980, em ato não reconhecido pela ONU.

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Apesar desta disputa, desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973, israelenses e sírios não se enfrentam militarmente. Ao longo destes anos, os dois apoiaram grupos diferentes na Guerra Civil libanesa (1975-90). Posteriormente, o regime de Damasco estabeleceu alianças com o palestino Hamas e o libanês Hezbollah, que são hostis a Israel, apoiando ambos nos conflitos no Líbano (2006) e Gaza (2009). Mas o mais próximo de um conflito entre as duas nações foi o bombardeio israelense de uma instalação suspeita na Síria em 2007.

A fronteira entre Israel e Síria é uma das  mais calmas de todo o Oriente Médio. Bashar al Assad, e seu pai, Hafez, sempre impediram qualquer forma de agressão contra os israelenses a partir desta região nos últimos 38 anos. Os dois países, quase sempre em lados antagônicos, criaram uma espécie de paz fria. Negociações para o estabelecimento de relações naufragaram no fim dos anos 1990, com Hafez, e, mais uma vez, em 2008, com Bashar. Nas duas ocasiões, o acesso à agua, e não a segurança de Israel, foi o maior obstáculo para um acordo.

Caso Assad seja deposto, esta dinâmica da paz fria será eliminada, assim como qualquer possibilidade de acordo no médio prazo. Israel terá ao lado algo similar ao que existe no Iraque hoje. Basicamente, instabilidade. A fronteira no Golã deixará de ser segura, abrindo uma quarta frente de tensão para o Exército israelense, além do norte (Hezbollah), Gaza (Hamas) e sul (Sinai, que hoje está menos controlado pelo Exército do Egito).

Dificilmente o sucessor do atual líder sírio será pró-Israel. Mesmo os opositores mais radicais em Damasco exigem a devolução do Golã e criticam duramente os israelenses, achando que Assad é muito ameno na defesa do Golã e dos palestinos. Para complicar, alguns deles são religiosos radicais. Assad tem a vantagem, para Israel, de ser secular. A queda do líder sírio, se ocorrer, será ainda mais perigosa para Israel do que a de Hosni Mubarak.

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Obs. A análise sobre a situação doméstica na Síria será publicada amanhã. Estive ausente ontem porque precisei escrever ontem as reportagens para a edição impressa do jornal para domingo. Peço desculpas

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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