Em março 2004, George morreu assassinado por militantes das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa quando fazia cooper em French Hill, uma área judaica em Jerusalém Oriental. Os terroristas pensavam que ele fosse um judeus israelense. Depois de perceberem o erro, pediram desculpas ao pai, Elias, que não aceitou. Afirmou que mesmo que George fosse um judeus israelense, não faria sentido matá-lo. "Dizer que o confundiram com um judeu é uma besteira. Se o morto fosse um israelense judeu não mudaria nada. Seria apenas um outro estudante correndo, inocente, sendo vítima desses estúpidos", me disse David Khoury, que estava na Escócia quando recebeu a notícia da morte do irmão. Era apenas um universitário com sonhos, me falaram seus amgos. Uma delas se transformou na minha melhor amiga em Jerusalém. Inclusive, para a matéria, publicada na Folha, me matriculei em um curso de verão sobre a formação do Knesset na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Mount Scopus, para ter a sensação de como era para um não-judeu estudar na universidade. Para quem estiver curioso, é normal, apesar do susto de umas colegas ao tomarem conhecimento de que sou descendente de libaneses.
Voltando a George, há poucas semanas, Elias deu mais um passo adiante. Traduziu com recursos próprios o livro "A Tale of Love and Darkness", de Amos Oz, que é o mais proeminenteescritor israelense. Seu objetivo é mostrar aos palestinos e árabes como existem similaridades entre a história dos israelenses e dos árabes. Mais do que isso, para ensinar aos palestinos o porquê de Israel ter conseguido construir o seu Estado e os palestinos não. Em vez de lutar contra o inimigo, aprenda com ele, é sua teoria. Os palestinos deveriam dar nomes de praças para George e seu pai, não para assassinos. Elias Khoury conseguiu a devolução de mais terras para os palestinos do que qualquer membro do Hamas. Tudo sem mandar seu filho se explodir. Ao contrário, o enviou para a universidade israelense, onde George, até ser assassinado, defendia com argumentos a posição dos palestinos.
Na época, e agora, achei importante contar esta história, já que muitos ainda insistem em achar que os palestinos de Jerusalém são radicais islâmicos fanáticos que querem a parte oriental da cidade por questões religiosas. George e Elias são cristãos e moderados. Aliás, ser cristão sequer importa. Muitos palestinos são muçulmanos e estão bem distantes de ser radicais. Basta passar uma noite em Ramallah para saber como a vida dos jovens de lá não se difere muito da dos de Sorocaba. E como a Universidade Bir Zeit tem estudantes como os da USP, da Columbia e da Hebraica de Mount Scopus.
Sigo na Colômbia, de onde escreverei posts nos próximos dias, antes de retornar a Nova York
O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009