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De Beirute a Nova York

De NY a Damasco - Avaliação internacional é de que Assad ainda segue firme no poder

no twitter @gugachacra

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Por gustavochacra
Atualização:

Com analistas indicando que seu regime não corre risco no curto prazo, o líder sírio, Bashar al Assad, reuniu milhares de pessoas em ato a seu favor em Damasco, enquanto suas forças seguiam massacrando a população em cidades do norte do país, provocando uma onda de refugiados em direção à Turquia.

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A manifestação de ontem, com uma gigantesca bandeira de 2,5 km, demonstrou que Assad ainda conta com apoio popular, especialmente em cidades como Damasco e Aleppo, conforme avaliam relatórios de embaixadas estrangeiras baseadas na Síria, incluindo a brasileira. Consultorias de risco político e especialistas em Síria seguem na mesma linha.

Na avaliação de Joshua Landis, professor da Universidade de Oklahoma e mais respeitado analista de Síria nos Estados Unidos, "será um processo longo e Assad ainda não corre risco", existindo a possibilidade de ele conseguir se manter no cargo por anos, como Saddam Hussein depois da Guerra do Golfo, em 1991. "Mas a diferença é que ele não possui petróleo como o iraquiano", acrescenta.

Neste caso, o apoio do Irã e da Arábia Saudita seria fundamental. Mesmo sem petróleo, Assad receberia certamente apoio iraniano por tempo indeterminado pois qualquer alternativa ao seu poder seria prejudicial para Teerã. No caso de Riad, apesar dos vários embates entre os dois, o medo maior seria a possível contaminação da queda de Assad no próprio reino. Claro, não de forças pró-democracia necessariamente, mas de qualquer grupo opositor.

Paul Salem, do Carnegie Middle East Center , em Beirute, afirma "que o melhor cenário seria o de implementação de reformas rápidas e fundamentais. Já o pior seria a Síria rumando para uma guerra civil", como já ocorreu nos vizinhos Líbano e Iraque, onde também existe divisão sectária. Em análise distribuída a bancos e fundos de investimento, a consultoria de risco Eurasia avalia que "Assad não corre risco no curto prazo, mas a continuação dos protestos aumentam os riscos no médio prazo".

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Está claro que, no momento, e que se frise a palavra "momento", Assad não deve cair. Agora, o que se observa é a capacidade de a oposição conseguir reunir forças em Damasco e Aleppo. Além disso, as forças de segurança permanecem coesas, apesar de casos isolados de deserção. O ponto fraco ainda é a economia, com o risco de perder o apoio da elite sunita. Mas esta ainda não rompeu.

As posições intransigentes da Rússia e da China se deve a avaliações locais de que Assad segue forte no poder. Se estivesse enfraquecido, os dois países não se importariam em chutar um cachorro morto. Os EUA, a França e os países europeus seguem insistindo na resolução sem sanção e sem pedir a saída do líder sírio - comparem com os casos de Hosni Mubarak e Ben Ali, que eram aliados. Israel observa com enorme cautela e prefere não se envolver. A torcida é pela estabilidade na fronteira, apenas isso. Os israelenses sabem que o regime em Damasco, com Assad ou democrático, será hostil no médio prazo.

Como termômetro, no Líbano, onde estão os especialistas e políticos que mais bem conhecem a Síria, foi instalado um governo pró-Damasco. Com a presença de Walid Jumblatt, o líder druzo que sempre está no lado mais forte da balança em Beirute. Desta vez, ele ficou com Assad.

A única nação que começa a pressionar mais duramente o líder sírio é a Turquia, que até um mês atrás era o maior aliado de Assad - mais até do que Teerã. Em Nova York, seguia a o impasse para a votação de uma resolução condenando a violência na Síria, com a China, Rússia, Brasil, Índia, África do Sul e Líbano se opondo à iniciativa liderados por americanos e europeus.

Ato contra e a favor de Assad em São Paulo - Manifestantes se reuniriam entre às 10h e às 14h de hoje diante do Consulado da Síria, na Avenida Paulista, para protestar contra a repressão de Bashar al Assad contra opositores. No domingo, haverá ato a favor do líder sírio diante do Shopping Paulista, ao meio-dia

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Leiam os blogs da Adriana Carranca, no Afeganistão, do Ariel Palacios, em Buenos Aires, do historiador de política internacional Marcos Guterman, em São Paulo, daClaudia Trevisan, em Pequim, o Radar Global, o blog da editoria de Internacional do portal estadão.com.br, com o comando do Gabriel Toueg e do João Coscelli, o Nuestra America, do Luiz Raatz, sobre América Latina, " e as Cartas de Washington, da correspondente Denise Chrispim

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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