O Líbano é um país sem nenhuma religião majoritária. Ao todo, são 18 credos. Apesar de não ser permitido censo, estima-se que os xiitas sejam a pluralidade (maior grupo, sem ser a maioria), seguidos de perto por cristãos maronitas e sunitas. Os druzos e os cristãos ortodoxos compõem o segundo bloco. Existem ainda diversas minorias cristãs, como os melquitas e os armênios, e muçulmanas, como os alauítas.
Política
Os cargos políticos são divididos entre as religiões
Presidente - Cristão Maronita
Premiê - Muçulmano Sunita
Presidente do Parlamento - Muçulmano xiita
O mesmo vale para o Parlamento
Cristãos (incluindo todas as denominações) = 50%
Muçulmanos (todas as denominações) e Druzos = 50%
Os cargos ministeriais também são distribuídos de acordo com a religião. As Forças Armadas possuem membros de todos os credos, mas o alto escalão tem proporcionalmente mais cristãos, enquanto na base os muçulmanos são mais majoritários
Atualmente, existem duas coalizões principais
14 de Março - Liderada pelo premiê Saad Hariri, é composta mela maioria dos sunitas, facções cristãos como a do radical Samir Gaegea e determinados grupos druzos
8 de Março - Uma aliança das organizações xiitas Hezbollah e Amal com o facções cristãs como a do populista Michel Aoun, também conta com grupos druzos e uma minoria sunita
obs. O presidente Michel Suleiman é visto como neutro e respeitado por todos os lados
obs2. Apesar de inimigas, as duas facções integram o governo de união nacional, que é controlado por Hariri
Como se posicionam as potências regionais
Estados Unidos - aliado incondicional de Saad Hariri, considera o Hezbollah um grupo terrorista
Síria - oficialmente, é aliada do Hezbollah, mas costuma pensar apenas em seus interesses. Nos últimos meses, se aproximou também de Hariri
Arábia Saudita - tradicionalmente apóia os sunitas e Hariri em especial. Porém teme um deterioração na situação libanesa e busca diálogo com o Hezbollah
Irã - Principal força por trás do Hezbollah, é odiado pelos sunitas libaneses e mesmo por alguns cristãos que apóiam a organização xiita
Israel - Única unanimidade no Líbano, sendo visto como inimigo por todos
Palestinos - Todos defendem a criação de um Estado palestino. Apesar de uma proximidade maior com os sunitas, ninguém defende a concessão de cidadania para eles
O Tribunal da ONU
Em fevereiro de 2005, Rafik Hariri, pai do atual primeiro-ministro, foi assassinado em um mega atentado em Beirute. Ele havia exercido o cargo de premiê, mas na época do ataque havia se transformado em líder da oposição à ocupação síria do Líbano.
As Nações Unidas instalaram um tribunal internacional para investigar o atentado. Inicialmente, a Síria era acusada. Mas nos últimos meses vazou a informação de que membros do Hezbollah teriam orquestrado o ataque terrorista
O Hezbollah exige que Hariri não aceite as determinações da ONU e afirma ter provas de que Israel teria sido responsável pelos atentados. A Síria ordenou a prisão de 33 libaneses que teriam dado depoimentos falsos para incriminar Damasco e o Hezbollah. Hariri inicialmente acusava a Síria, mas pediu desculpas. Tampouco condena o Hezbollah. Porém é relutante em não aceitar as determinações da ONU
Riscos
Guerra Civil - Facções dos dois lados têm comprado armamentos. Porém os sunitas sabem que provavelmente seriam derrotados pelo Hezbollah, considerada a milícia mais bem treinada do mundo. Os cristãos tenderiam a guerrear entre si
Guerra contra Israel - O Hezbollah poderia provocar Israel, levando todo o Líbano para uma nova guerra
Queda do Governo - A crise poderia também ter impacto político, com a queda de Hariri e a instalação de um governo com maior influência do Hezbollah e de seus aliados cristãos
Por que a visita de Ahmadinejad é arriscada?
Primeiro, o líder iraniano tem todo o direito de visitar o Líbano. Porém sua viagem traz riscos. Ele irá à fronteira com Israel e muitos libaneses temem que Ahmedinajad provoque os israelenses. Em segundo lugar, seu discurso pode acentuar ainda mais as diferenças entre sunitas e xiitas
PALESTINOS X ISRAEL = ?
1. Palestinos exigem que Israel prorrogue o congelamento na construção de novas unidades residenciais em assentamentos na Cisjordânia
2. Israelenses afirmam que aceitam prorrogar apenas se os palestinos reconhecerem Israel como Estado judaico
3. Palestinos dizem que reconhecem Israel como Estado judaico (eles já reconhecem Israel) caso os israelenses aceitem um Estado palestino na fronteira pré-1967
RESULTADO = O que dirá Netanyahu agora? Não é que, talvez, em voz alta, os dois lados estejam negociando?
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios