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De Beirute a Nova York

De Teerã a Beirute - Um resumo do Líbano durante a visita de Ahmadinejad

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, está em visita oficial ao Líbano, certamente o país mais complicado do Oriente Médio.  No post de hoje, vou tentar fazer uma explicação didática para entendermos como é delicada a visita do líder iraniano.

Por gustavochacra
Atualização:

O Líbano é um país sem nenhuma religião majoritária. Ao todo, são 18 credos. Apesar de não ser permitido censo, estima-se que os xiitas sejam a pluralidade (maior grupo, sem ser a maioria), seguidos de perto por cristãos maronitas e sunitas. Os druzos e os cristãos ortodoxos compõem o segundo bloco. Existem ainda diversas minorias cristãs, como os melquitas e os armênios, e muçulmanas, como os alauítas.

Política

Os cargos políticos são divididos entre as religiões

Presidente - Cristão Maronita

Premiê - Muçulmano Sunita

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Presidente do Parlamento - Muçulmano xiita

O mesmo vale para o Parlamento

Cristãos (incluindo todas as denominações) = 50%

Muçulmanos (todas as denominações) e Druzos = 50%

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Os cargos ministeriais também são distribuídos de acordo com a religião. As Forças Armadas possuem membros de todos os credos, mas o alto escalão tem proporcionalmente mais cristãos, enquanto na base os muçulmanos são mais majoritários

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Atualmente, existem duas coalizões principais

14 de Março - Liderada pelo premiê Saad Hariri, é composta mela maioria dos sunitas, facções cristãos como a do radical Samir Gaegea e determinados grupos druzos

8 de Março - Uma aliança das organizações xiitas Hezbollah e Amal com o facções cristãs como a do populista Michel Aoun, também conta com grupos druzos e uma minoria sunita

obs. O presidente Michel Suleiman é visto como neutro e respeitado por todos os lados

obs2. Apesar de inimigas, as duas facções integram o governo de união nacional, que é controlado por Hariri

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Como se posicionam as potências regionais

Estados Unidos - aliado incondicional de Saad Hariri, considera o Hezbollah um grupo terrorista

Síria - oficialmente, é aliada do Hezbollah, mas costuma pensar apenas em seus interesses. Nos últimos meses, se aproximou também de Hariri

Arábia Saudita - tradicionalmente apóia os sunitas e Hariri em especial. Porém teme um deterioração na situação libanesa e busca diálogo com o Hezbollah

Irã - Principal força por trás do Hezbollah, é odiado pelos sunitas libaneses e mesmo por alguns cristãos que apóiam a organização xiita

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Israel - Única unanimidade no Líbano, sendo visto como inimigo por todos

Palestinos - Todos defendem a criação de um Estado palestino. Apesar de uma proximidade maior com os sunitas, ninguém defende a concessão de cidadania para eles

O Tribunal da ONU

Em fevereiro de 2005, Rafik Hariri, pai do atual primeiro-ministro, foi assassinado em um mega atentado em Beirute. Ele havia exercido o cargo de premiê, mas na época do ataque havia se transformado em líder da oposição à ocupação síria do Líbano.

As Nações Unidas instalaram um tribunal internacional para investigar o atentado. Inicialmente, a Síria era acusada. Mas nos últimos meses vazou a informação de que membros do Hezbollah teriam orquestrado o ataque terrorista

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O Hezbollah exige que Hariri não aceite as determinações da ONU e afirma ter provas de que Israel teria sido responsável pelos atentados. A Síria ordenou a prisão de 33 libaneses que teriam dado depoimentos falsos para incriminar Damasco e o Hezbollah. Hariri inicialmente acusava a Síria, mas pediu desculpas. Tampouco condena o Hezbollah. Porém é relutante em não aceitar as determinações da ONU

Riscos

Guerra Civil - Facções dos dois lados têm comprado armamentos. Porém os sunitas sabem que provavelmente seriam derrotados pelo Hezbollah, considerada a milícia mais bem treinada do mundo. Os cristãos tenderiam a guerrear entre si

Guerra contra Israel - O Hezbollah poderia provocar Israel, levando todo o Líbano para uma nova guerra

Queda do Governo - A crise poderia também ter impacto político, com a queda de Hariri e a instalação de um governo com maior influência do Hezbollah e de seus aliados cristãos

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Por que a visita de Ahmadinejad é arriscada?

Primeiro, o líder iraniano tem todo o direito de visitar o Líbano. Porém sua viagem traz riscos. Ele irá à fronteira com Israel e muitos libaneses temem que Ahmedinajad provoque os israelenses. Em segundo lugar, seu discurso pode acentuar ainda mais as diferenças entre sunitas e xiitas

PALESTINOS X ISRAEL = ?

1. Palestinos exigem que Israel prorrogue o congelamento na construção de novas unidades residenciais em assentamentos na Cisjordânia

2. Israelenses afirmam que aceitam prorrogar apenas se os palestinos reconhecerem Israel como Estado judaico

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3. Palestinos dizem que reconhecem Israel como Estado judaico (eles já reconhecem Israel) caso os israelenses aceitem um Estado palestino na fronteira pré-1967

RESULTADO = O que dirá Netanyahu agora? Não é que, talvez, em voz alta, os dois lados estejam negociando?

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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