Conforme afirmou o Michael Douglas em entrevista da qual participei na semana passada, "atores adoram papel de vilão". Ahmadinejad é como o personagem Gordon Gekko, representado pelo filho de Kirk Douglas, no filme Wall Street. Da mesma forma que o vilão das finanças, o iraniano também tem seus fãs e defensores, incluindo o chanceler Celso Amorim e o diretor Oliver Stone.
Ontem o atentado de 11 de Setembro substituiu o Holocausto no discurso do iraniano nas Nações Unidas em uma espécie de segundo episódio de uma série do vilão Ahmadinejad. Assim como no genocídio dos judeus na Segunda Guerra, o líder iraniano usou uma série de teorias da conspiração para explicar os atentados terroristas em Nova York e Washington.
Aliás, em um trecho do seu discurso, Ahmadinejad diz que, segundo uma das versões do 11 de Setembro, "os EUA orquestraram o atentado para reverter o declínio da economia americana e aumentar a sua influência no Oriente Médio e também para salvar o regime sionista (termo usado por ele para se referir a Israel). A maior parte da população americana, políticos e outras nações concordam com esta visão", acrescentou, sem explicar de onde tirou esta informação.
Meses atrás, o presidente do Irã chegou a dizer que nunca tinha visto a lista das vítimas dos atentados, para depois ser desmentido. Afinal, os nomes dos mortos estão em diversos sites da internet e também são lidos todos os anos no Ground Zero.
Não dá para saber de onde o iraniano inventa ou tira estas histórias. Ahmadinejad afirma apenas ter ouvido de "nações e políticos". Sabemos que ele conversa muito com o ministro das Relações Exteriores do Brasil. Mas duvido que Amorim acreditaria em uma teoria da conspiração destas. Por este motivo, tampouco deveria crer quando o Irã afirma estar disposto a negociar. Mas não é o que acontece. Segundo disse em entrevista à repórter Cris Fibe da Folha, os iranianos "estão muito dispostos (a dialogar). Eu já vinha sentindo, primeiro, que eles mantiveram a flexibilidade. Mesmo depois da adoção das sanções, a reação oficial do governo tem sido a de que continua aberto a negociações".
Sei, sei. E o 11 de Setembro deve ter sido uma operação da CIA. Este é o Ahmadinejad, o Gordon Gekko da política internacional. Quem acredita nele?
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios