O clube Paulistano, uma instituição de 110 anos de história nos Jardins, não permitiu que um médico e sócio gay pudesse colocar o seu parceiro, com quem vive há seis anos, como seu dependente. Se quiser frequentar as instalações da rua Honduras, precisará pagar US$ 185 mil. Caso fosse mulher, já estaria aceita. Para entender melhor o caso, leia a reportagem no Estadão.com.
O argumento dos conselheiros é de que as leis brasileiras não reconhecem a união destes dois homens. Verdade, a decisão do clube não foi ilegal. Mas, assim como o Brasil, na questão dos homossexuais, o Paulistano está ultrapassado, parou no tempo. Podia ter dado um exemplo de tolerância, como já fez outras vezes no passado ao abrir o clube para que atletas paraolímpicos pudessem treinar.
Ahmadinejad mostrou ao mundo como é deprimente alguém dizer que "não existem homossexuais no Irã". O Lula e os conselheiros do Paulistano não chegam a este ponto. Mas por que então são incapazes de aceitar que pessoas do mesmo sexo possam se amar e ter filhos? Não possam ser uma família como qualquer outra?
Às vezes, fico pensando se o Brasil não é bem mais conservador do que gosta de dizer. Ou, pior, somos um país de hipócritas, onde muitos condenam o tráfico de droga e cheiram cocaína. Igual aos EUA. Discutir a legalização das drogas na campanha? Ninguém faz isso (o FHC faz, mas ele já saiu da política). São Paulo tem a maior parada gay do mundo. Discutir os direitos dos homossexuais? Ninguém faz isso.
Aliás, como curiosidade, o Paulistano aceitou o seu primeiro sócio negro neste ano. É o Ronaldo Fenômeno. Outros clubes, como o Harmonia, ainda não têm nenhum. Por que ninguém fala deste racismo aberto existente nos clubes sociais?
O Paulistano é minha segunda casa e certamente o lugar que mais sinto falta no Brasil. Morando em Nova York ou no Oriente Médio, sonho todos os dias com a piscina do meu clube, onde joguei pólo aquático e treinei para travessias. Minha mãe foi campeã su-americana de natação representando as cores vermelha e branca do Paulistano, assim como o meu avô conquistou o título brasileiro de atletismo. Até acho que o clube avançou muito, teve um presidente judeu e o atual é de origem libanesa, bem diferente dos tempos "quatrocentões" do Paulistano, quando "turco" e judeu tomavam "bola preta". Mas, desta vez, o clube se mostrou retrógrado.
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios