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De Beirute a Nova York

De Washington a Brasília - No Brasil, não há conservadores e liberais, como nos EUA

O Wall Street Journal e o New York Times estão em guerra. Assim como o Comedy Central e a Fox News. O mesmo vale para democratas e republicanos. Nos EUA, ou você é conservador (direita) ou liberal (esquerda, no sentido americano). E os dois lados migram cada vez mais para os extremos. Mesmo legislações com amplo apoio da população, como a reforma do sistema financeiro, enfrentam dezenas de obstáculos e negociações para serem aprovadas. Raramente um republicano vota com os democratas e vice-versa.

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Por gustavochacra
Atualização:

Americanos tendem a ter uma posição sobre tudo. O que é admirável. Nos papers nas escolas e universidades, os alunos são treinados a terem um ponto de vista. Bem diferente das redações da FUVEST no Brasil, onde o estudante faz uma introdução, coloca um pouco dos dois lados, e conclui. Ao chegar à vida adulta, depois da universidade, o cidadão dos EUA poderá ser contra ou a favor de uma presença maior do governo na economia; poderá defender ou rejeitar a legalização das drogas, o direito ao aborto ou ao casamento de homossexuais; achará que os imigrantes ilegais devam ter direitos ou sejam tratados como criminosos. Enfim, em tudo, os americanos precisam ter uma opinião.

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Estas diferenças se refletem na hora de votar reformas, como a do sistema de saúde, financeira, energética e de imigração. Ou mesmo quando cidadão coloca o voto na urna, muda seu canal de TV, assina o seu jornal. O presidente também vê como pensam juristas quando escolhe um juiz da Suprema Corte - Obama escolherá liberais; Bush indicava conservadores. A dificuldade, porém, é que os republicanos são a favor de menos impostos e, ao mesmo tempo, querem endurecer no combate à imigração, como vimos no caso do Arizona. Também, em sua maioria, rejeitam o aborto ou casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Logo, cidadãos que são conservadores na economia e liberais em questões sociais, ficam perdidos no meio de campo. De um lado, ele pode optar pelo lado social, votando nos democratas a aceitando um governo mais presente na economia - sem esquecer que Bush reduziu os impostos, mas aumentou os gastos estatais. Este americano pode, também, abdicar de seus valores sociais para defender o pagamento de menos impostos.

No Brasil, por mais que insistam em me mostrar diferenças, não consigo ver Dilma e Serra tão distintos em questões fundamentais. Na economia, os governos de Lula e Fernando Henrique foram semelhantes, com o petista seguindo a receita do seu antecessor - aliás, Serra criticava muito o Arminio Fraga e o Pedro Malan, que salvaram a nossa economia. Em temas sociais, também se diferem muito pouco, pelo menos até onde eu sei. Apesar da polarização da campanha, as divisões entre o PT e o PSDB não podem ser comparadas às de democratas e republicanos. Aliás, nos EUA, Serra e Dilma seriam considerados de extrema esquerda, bem além de Obama.

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Perfil (a ferramenta ao lado não funciona) - O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

Leia os blogs dos correspondentes internacionais do Estadão - Ariel Palacios (Buenos Aires), Patricia Campos Mello (Washington), Jamil Chade (Genebra), Claudia Trevisan (Pequim) e Adriana Carranca (pelo mundo)

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