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De Beirute a Nova York

De Washington a Pequim - Chineses apoiam apenas sanções fracas ao Irã

O anúncio da China de que apóia uma nova resolução com sanções ao Irã provocou euforia em alguns órgãos de imprensa e meios diplomáticos aqui em Washington. Bobagem. No fundo, nada muda. Os chineses, assim como os russos, apóiam sanções brandas ao regime de Teerã. Não deixarão interferir no emergente comércio entre estes países e os iranianos. Pequim comprará petróleo e venderá seus produtos normalmente. Moscou também não abdicará de seus bons negócios com os persas. Aliás, o China Daily, na sua edição de hoje, coloca o encontro do Obama com o Hu Jintao na capa sem citar em nenhum momento a palavra "Irã" ou "sanções".

Por gustavochacra
Atualização:

A resolução apenas adiará um problema que se divide entre aceitar o regime iraniano com capacidade de desenvolver armas nucleares ou um arriscado ataque israelense contra instalações iranianas que pode não resultar em nada. Como todos os países, o Irã é realista. Defende apenas os seus interesses. Hoje, os iranianos olham ao seu redor e vêem israelenses, paquistaneses, russos e indianos com bombas atômicas. Sem falar nos americanos, em suas fronteiras ocidental, no Iraque, e oriental, no Afeganistão. E sabem que a melhor forma de se impor é com uma bomba atômica, especialmente porque os norte-coreanos deitam e rolam em desrespeito a resoluções internacionais sem serem importunados - afinal, estão no clube nuclear.

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A única saída que não envolvesse guerra ou um Irã nuclear seria uma garantia de segurança para os iranianos ou a imposição de uma barreira. Para atingir o primeiro objetivo, existiriam duas possibilidades. A primeira, defendida pela Turquia e Egito, com o apoio indireto até mesmo do Brasil, prevê um Oriente Médio sem armas nucleares. Esta iniciativa visa o desarmamento de Israel, que possui um arsenal nuclear não declarado. Porém, como os iranianos, os israelenses são realistas. E sabem que a sua melhor defesa em meio a vizinhos hostis é justamente ter bombas atômicas.

A outra possibilidade, completamente improvável, seria dar garantias de segurança ao Irã por outros meios. Como no caso da Turquia, que integra a OTAN. Mas é óbvio que isso não irá ocorrer. A barreira seria a existência de um regime hostil da fronteira com o Irã, como o Iraque de Saddam Hussein. Mas os EUA derrubaram o antigo ditador, abrindo o mundo árabe para a influência iraniana, antes restrita aos xiitas libaneses.

Temos que aceitar de vez que o Irã terá capacidade de ter armamentos atômicos em alguns anos ou concordar com um ataque israelense. Cada país tende a ter a sua opinião. Mas quase nenhuma interessa, a não ser a de Israel e dos EUA. E, com as relações entre os dois países estremecidas, acredito que os israelenses levarão em consideração apenas os seus jogos militares, que já estão realizados, para determinar uma ação militar ou não. Levarão em conta a resposta iraniana, via Hezbollah, com capacidade de matar milhares em Tel Aviv e Haifa. E também, claro, o risco para a já deteriorada imagem de Israel no exterior.

E o Irã, enquanto isso, corre contra o tempo, usando todas as vias diplomáticas possíveis. Afinal, sabe que, uma vez que tiver uma bomba, ninguém mexerá com eles. A opção do ataque israelense será descartada. Portanto, esqueçam a posição da China, da Rússia e muito menos a do Brasil e da Turquia. Daqui dois meses, quando o México estiver na Presidência do Conselho de Segurança da ONU, aprovarão uma resolução inócua que não afete os negócios chineses e russos. Obama venderá a aprovação como uma vitória, Ahmadinejad dará risada, Hu Jintal e Medvedev manterão seu comércio e Netanyahu tomará uma decisão.

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Obs. Dizem que os EUA tentam na verdade é ganhar tempo para a coalizão de Bibi cair. Neste caso, já estariam resignados com um Irã nuclear.

Obs2. Desculpem publicar um post em seguida do outro. Mas estou em Washington na cobertura da cúpula nuclear. E tentarei responder ao máximo possível de comentários a partir de agora

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Perfil (a ferramenta ao lado não funciona) - O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009

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