Foto do(a) blog

De Beirute a Nova York

Do Cairo a Santiago - Uma comparação da democratização no Egito com a América do Sul

no twitter @gugachacra

PUBLICIDADE

Por gustavochacra
Atualização:

Egito, Iraque e Tunísia são os países mais próximos de se transformarem em democracias no mundo árabe, sem levar em consideração o complicado sistema sectário libanês. Os três não possuem mais ditadores. Podem não ser uma Suécia e nem mesmo um Equador. Mas avançaram. Egípcios e tunisianos buscam construir suas instituições, organizar eleições e fazer o possível para se tornarem verdadeiros Estados democráticos, ainda que não idênticos aos europeus.

PUBLICIDADE

O processo é lento. Na América Latina, demoraram alguns anos para o Brasil, Argentina e Chile virarem democracias plenas. Não tivemos eleições diretas e o primeiro presidente, José Sarney, era integrante civil do regime militar - e ele, mesmo 26 anos depois da democratização, ainda ocupa o cargo de presidente do Senado. Elegemos presidente apenas meia-década depois de o poder ter passado para civis. A Argentina teve que lidar com os levantes militares nos anos 1980, durante a administração de Raul Alfonsín. Augusto Pinochet permaneceu mais uma década no comando das Forças Armadas chilenas e era senador vitalício.

O Egito prendeu o ex-ditador Hosni Mubarak e seus filhos, algo que o Chile não fez. Realizará eleições ainda neste ano, e não esperará cinco, como o Brasil. Por enquanto, não ocorreram levantes a favor do regime anterior, como em Buenos Aires. O avanço no Cairo tem sido mais rápido.

Existe a preocupação com a Irmandade Muçulmana. O partido, que há anos abdicou da violência, deve respeitar o secularismo egípcio e respeitar as instituições. Mas não pode ser proibido de ser religioso. Israel é democrático e possui partidos religiosos, como o Shas, na coalizão de governo.

A Tunísia segue no mesmo rumo do Egito, com a vantagem de ter uma classe média mais bem preparada e sem uma influência tão grande de religiosos conservadores. O ditador está no exílio e seu regime foi completamente desmontado. Não tem ocorrido cenas de violência criminal como no Cairo e tampouco choques sectários. Os tunisianos são quase todos muçulmanos sunitas, sem minorias religiosas cristãs ou xiitas.

Publicidade

O Iraque luta desde 2003 para se democratizar. Ainda há violência, mas menos do que quatro anos atrás. Com todos os seus defeitos, existe um governo legítimo eleito pela população. A Justiça tem relativa independência. Porém ainda há uma série de obstáculos a serem superados. O sunitas árabes possuem pouca representação. A milícia xiita de Moktada al Sadr se fortaleceu e pode sabotar todo o processo - tocarei no assunto em breve.

Os Estados Unidos perceberam a necessidade de apoiar a transição democrática nestes países. Seria uma espécie de plano Marshall. Mais importante, os americanos e outras nações deveriam condicionar ajuda militar a reformas. Egito, Tunísia e Iraque vão receber. Argélia, Marrocos, Jordânia e outras nações somente deveriam ter direito caso se democratizassem.

Leiam os blogs da Adriana Carranca, no Afeganistão, do Ariel Palacios, em Buenos Aires, do historiador de política internacional Marcos Guterman, em São Paulo, daClaudia Trevisan, em Pequim, o Radar Global, o blog da editoria de Internacional do portal estadão.com.br, com o comando do Gabriel Toueg e do João Coscelli, o Nuestra America, do Luiz Raatz, sobre América Latina, " e as Cartas de Washington, da correspondente Denise Chrispim

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista

O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.