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Os bombardeios com Drones, como são conhecidos os aviões não tripulados, aumentam o ódio aos Estados Unidos no Paquistão e no Yemen, que são os países alvejados por estes ataques. A afirmação foi feita ontem por um jovem iemenita ao Congresso dos EUA, em Washington, acentuando um debate já existente sobre o uso deste armamento.
No mesmo dia, a organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch lançou uma campanha para tentar banir o uso dos "robôs assassinos", que é uma denominação muito utilizada pelos opositores ao uso dos Drones nos Estados Unidos.
Até o início deste ano, o debate sobre os Drones era restrito à academia e ocasionais matérias no New York Times. Em março, porém, o senador republicano Rand Paul, de viés libertário, decidiu levantar esta questão no Senado americano em votação para aprovar John Brennan, conhecido como o "pai dos Drones", para dirigir a CIA.
Paul frisava que a administração de Barack Obama mata seres humanos, incluindo cidadãos americanos, com o simples argumento de eles serem combatentes inimigos. Esta classificação permite aos EUA eliminar ou prender supostos terroristas ao redor do mundo sem leva-los para a Justiça.
A estratégia de usar os Drones visa enfraquecer a Al Qaeda no Paquistão e no Yemen, onde estão os seus dois principais braços, e é uma alteração em relação à política de George W. Bush, que preferia a detenção. Basicamente, como dizem nos EUA, Bush "prendia e torturava" enquanto Obama "mata".
Os resultados em contraterrorismo são ambíguos. Por um lado, dezenas de líderes da Al Qaeda foram afetados. A organização terrorista tem menos capacidade de organizar mega atentados como no passado, a não ser em cenários de guerra civil, como na Síria. Ao mesmo tempo, estas ações têm radicalizado muçulmanos que podem ficar mais propensos a lançar ataques mesmo sem uma aliança direta com a rede de Bin Laden.
Além disso, entre os mortos, há muitos suspeitos de envolvimento com o terrorismo ou figuras que possuem ameaça apenas local. Apenas para se ter uma ideia, dos 166 prisioneiros em Guantánamo atualmente, apenas seis foram considerados culpados. Imagina-se que uma proporção semelhante de vítimas dos Drones sejam inocentes equivocadamente acusados de terrorismo.
Para completar, nos bombardeios, por mais que tenha havido avanços nas operações, muitos civis inocentes, incluindo mulheres e crianças, acabam morrendo como efeito colateral destes bombardeios.
Hoje, os EUA são o único país a utilizar Drones para bombardeios. Mas, em breve, muitos outros países passaram a usar domestica e externamente, incluindo o Irã, Rússia e China. Isso sem falar de organizações como o Hezbollah, que já possui aviões não tripulados para espionagem. A guerra no futuro tende a ser entre robôs. Mas as vítimas serão seres humanos.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires