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De Beirute a Nova York

É mais provável ou não que Obama tenha mentido sobre Bin Laden?

Tom Brady, um dos maiores vencedores da história do futebol americano, foi punido pela NFL por ser mais provável do que não ele ter conhecimento de que as bolas utilizadas em uma partida decisiva tinham sido propositalmente desinfladas por funcionários do seu time, o New England Patriots. Agora, minha pergunta - é mais provável ou não que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tenha mentido sobre a ação para matar Osama bin Laden? Ninguém discute que o líder terrorista tenha sido morto, mas as circunstâncias seriam distintas das descritas pelo líder americano, de acordo com reportagem publicada por Seymour Hersh, um dos maiores jornalistas investigativos dos EUA e autor dos maiores furos de reportagem da Guerra do Vietnã (Massacre de My Lai) e da Guerra do Iraque (Abu Ghraib) Qual a versão oficial? De acordo com a versão oficial, a CIA descobriu que provavelmente Bin Laden vivia em uma casa em Abbottabad ao descobrir os mensageiros do líder terrorista. Seu esconderijo ficava a apenas alguns quilômetros de uma academia militar similar às Agulhas Negras e também de um quartel da ISI, o poderoso serviço inteligência paquistanês. Os SEALs teriam penetrado no território do Paquistão, vindos do Afeganistão. Um dos helicópteros se chocou contra o solo. Ainda assim, e enfrentando resistência, conseguiram realizar a operação sem que a polícia tivesse chegado. O corpo de Bin Laden foi levado para o Afeganistão e posteriormente jogado ao mar em funeral em um navio militar americano. Qual a versão de Serymor Hersh? Nesta semana, porém, surgiu uma nova versão, publicada por Seymour Hersh na London Review of Books. Este jornalista não é qualquer um. Simplesmente, é responsável pelo maior furo de reportagem da Guerra do Vietnã (o Massacre de May Lai) e o da Guerra do Iraque (Abu Ghraib). Ambos episódios poderiam ser vistos como teorias da conspiração, mas acabaram sendo comprovados. Segundo Hersh, com base em fontes não identificadas, o Paquistão havia capturado Bin Laden em 2006 e o mantinha preso em Abbottabad nesta residência protegida pela ISI. Tudo seria bancado pelos sauditas. Em 2010, um membro da inteligência paquistanesa foi à embaixada dos EUA e informou sobre Bin Laden, em troca de recompensa de US$ 25 milhões. A CIA conseguiu confirmar que era Bin Laden e, mais importante, que o alto escalão da inteligência paquistanesa e dos serviços de segurança tinham conhecimento. Em 2011, os EUA montaram a operação para matar Bin Laden e concordaram em denunciar os líderes paquistaneses. Assim, eles não enfrentariam problemas domésticos. Em troca, garantiram que a operação dos SEALs não enfrentaria obstáculos. Os americanos foram a Abbottabad, com eletricidade da cidade cortada propositalmente, mataram Bin Laden, que estava com a saúde precária, e foram embora - houve de fato o acidente com o helicóptero. No caminho, teriam jogado partes do corpo de Bin Laden e talvez sequer tenha havido funeral. Quem critica e quem apoia a versão de Hersh? De analistas sérios que apresentam bons questionamentos sobre o relato de Hersh, recomendo Peter Bergen, especialista em terrorismo da CNN, que teve acesso à residência em Abbottabad. Dos que veem pontos importantes e concordam em parte com Hersh, recomendo este artigo de Carlota Gall, correspondente do New York Times no Paquistão por 12 anos O que eu acho? Avalio que as duas versões devem ter verdades e inverdades. Em alguns casos, propositais. Em outros, não. Avalio ser necessária uma investigação formal do episódio. Por que as fotos não são tornadas públicas, por exemplo? Quanto menos informação o governo fornece, mais aumenta o ceticismo. Portanto, seguindo o modelo "Tom Brady", talvez seja mais provável do que não que Obama não tenha falado a verdade. Mas, assim como no caso do quarterback, não há uma prova definitiva de que o presidente teria mentido. De qualquer maneira, acho improvável que pelo menos algum grupo dentro da ISI não tivesse conhecimento de que Bin Laden estivesse escondido em Abbottabad. Se colaboraram com os EUA no episódio, é mais difícil dizer.

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Por gustavochacra
Atualização:

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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