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De Beirute a Nova York

Egito será mais democrático e bem mais conservador

no twitter @gugachacra

Por gustavochacra
Atualização:

A queda de Hosni Mubarak era dada como certa por consultorias de risco político em agosto de 2010. Naquela época, eu escrevi reportagem no Estadão dizendo que os militares não queriam mais o ditador e muito menos o seu filho Gamal no comando do governo no Cairo.

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O objetivo deles era forçar Mubarak a não se candidatar nas eleições presidenciais, marcadas para setembro deste ano, e impedir Gamal de se lançar como sucessor do pai. Todo o processo seria armado ao longo de 2011. Os nomes para suceder o então ditador eram justamente os dos atuais integrantes da Junta Militar.

Os levantes na Tunísia que culminaram na deposição de Ben Ali aceleraram o processo. Os egípcios foram às ruas e o Exército serviu como guardião da nação, bloqueando as iniciativas de Mubarak. Se pudesse, o egípcio teria realizado massacres como os de Bashar al Assad, na Síria. Mas os militares o impediram.

A jogada das Forças Armadas foi genial. Mubarak foi tirado da frente sem esforço deles, que ainda passaram a ser idolatrados pelo povo. Desta forma, poderiam conservar o poder, especialmente em questões de política externa, sem perder a ajuda bilionária concedida pelos Estados Unidos.

As eleições serviriam para dar um verniz de democracia, enquanto o país genuinamente, em questões domésticas, se abriria em relação ao período de Mubarak. A Irmandade Muçulmana, em um primeiro momento, aceitou a manutenção do poder do Exército. Afinal, eles não estavam na vanguarda da revolução e precisavam de um tempo para se revigorar e deixar de lado os jovens seculares que lotaram a Tahrir no início deste ano.

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Dez meses mais tarde, diante de uma provável vitória nas eleições parlamentares, os islamistas saíram às ruas para protestar contra o regime. Mas a Irmandade Muçulmana perdeu o controle. Para o partido, as manifestações podem atrapalhar as eleições e impedir o grupo de chegar ao poder. O problema é que membros mais radicais não apenas da agremiação estão insatisfeitos com o Exército e não querem esperar.

As Forças Armadas deixaram de ser os protetores da nação e voltaram a ser vistos como os aliados de Israel. Na Primavera Árabe, uma coisa certa é a elevação do sentimento anti-israelense. Como é comum nos Exércitos do mundo árabe, eles mataram 28 pessoas. Obviamente, não serão suspensos da Liga Árabe. Apenas Bashar e Kadafi foram porque não puxavam o saco da Arábia Saudita. Até mesmo o genocida do Sudão segue firme e forte na entidade.

Voltando ao Egito, os protestos de hoje podem ser menos simbólicos do que os de janeiro. Porém podem definir o futuro não apenas do Cairo, mas de toda a região. O Oriente Médio está mais democrático, mas mais religioso. Cresce a democracia, mas diminui a liberdade. As mulheres e as minorias vão sofrer, tenham certeza.

Nunca se esqueçam daquelas fotos de Alexandria nos anos 1960, com as mulheres de cabelos soltos na praia, quando o Egito era uma nação mediterrânea. Hoje, uma foto registrará uma cena de mulheres de véus.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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