A ajuda humanitária contribui para a acalmar a população. Até agora, os haitianos ainda estão em estado de choque em decorrência do terremoto. Mas, em breve, perceberão a nova realidade em que vivem e a fome e a sede podem levá-los a atos mais violentos. Por enquanto, porém, a não ser por episódios isolados, eles têm se mostrado solidários. Saques podem até existir. Mas muitos são apenas casos de pessoas pegando algum refrigerante ou pão de forma em um bar onde as paredes ruíram com os tremores. A história de barricadas de corpos é mentirosa. Na verdade, alguns haitianos colocam os corpos nas ruas para facilitar o recolhimento.
Apesar da situação precária, os habitantes de Porto Príncipe tentam manter a honra intacta. São raros os haitianos que andam sem camisas. Ficar com o corpo nu significa ser "como um escravo" na visão deles. Outra curiosidade é que eles não gostam de acenar como os brasileiros. O nosso ato de dar tchau era usado por eles como um sinal de que você estava condenado à morte durante as ditaduras de Papa Doc (François Duvalier) e de seu filho, Baby Doc. Aliás, interessante notar como a história apaga algumas coisas. Aqui no Haiti, hoje em dia, ninguém mais fala nos Tontons Macoutes, que massacravam a população.
O Haiti também é o segundo país das Américas a ficar independente, depois dos Estados Unidos. E foi um movimento liderado pelos negros, ao contrário da América hispânica, líderes de origem européia, como San Martin e Simon Bolívar, comandaram o fim do colonialismo. Com o passar dos anos, uma elite mulata começou a controlar o país. Mas vou deixar a história do Haiti para um outro post.