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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não quer intervir na Síria. Em agosto, o líder americano fez ameaças ao regime de Bashar al Assad caso armas químicas fossem utilizadas. Agora, mesmo depois de Israel, França, Grã Bretanha e mesmo o seu próprio governo suspeitarem que este arsenal teria sido utilizado, ele prefere manter a cautela.
Para Obama, é melhor esperar um pouco mais antes de tomar uma decisão sobre qual rumo os EUA devem tomar na Síria. Por enquanto, o apoio tem sido logístico a grupos da oposição não ligados à Al Qaeda. Mas existe uma pressão enorme para armar estas facções ou mesmo intervir diretamente no conflito que já deixou cerca de 80 mil mortos - mortas pelos dois lados, que isso fique claro, embora o governo seja responsável por uma parcela bem maior. Avalio que, nas próximas semanas, ele anunciará que começará a armar grupos supostamente moderados entre os rebeldes.
O uso de armas químicas seria este divisor de águas e ainda pode ser. Mas, para ganhar um pouco mais de tempo, Obama prefere esperar por evidências claras de que Assad teria utilizado estes armamentos, apesar de admitir que provavelmente elas teriam sido usadas próximo a Aleppo. Assim, não precisa tomar uma decisão imediata, mas que, em algum momento, precisará acontecer.
Não está, realmente, claro se Assad usou armas químicas. A ONU não concluiu sua investigação em grande parte porque o regime não permitiu o acesso dos investigadores. Ao mesmo tempo, as suspeitas de Israel e de outros países se baseiam exclusivamente em vídeos ou informações não conseguidas em campo. Não dá para descartar a hipótese também de que os rebeldes tenham sido os responsáveis. Mas, aparentemente, dá para ter enormes suspeitas de que o regime as usou.
As armas químicas preocupam Obama acima de tudo para o período posterior à queda de Assad se esta vier a acontecer - ele segue firme no poder, controlando Damasco, Homs, Hama e toda a costa Mediterrânea. Não haveria segurança para este arsenal que poderia cair nas mãos do Hezbollah ou de organizações ligadas a Al Qaeda que estão na vanguarda militar da oposição.
Por este motivo, os EUA e, em menor escala, Israel, estão em estado de alerta para uma intervenção emergencial na Síria caso o cenário se torne caótico. O objetivo seria controlar as instalações com armamentos químicos e arrumar uma forma de transferi-los para a Jordânia. Os americanos não levarão adiante uma ocupação da Síria como ocorreu no Iraque.
Assad, mesmo negando o uso das armas químicas, sabe da importância delas porque servem para impedir intervenções externas. O líder sírio afirmou que irá usá-las caso haja intervenção estrangeira. Por enquanto, ele prefere manter as ações com armamentos convencionais que tem sido suficientes para frear o avanço da oposição - ao contrário do que muitos dizem há dois anos, seus dias não estavam contados.
Para completar, não há, independentemente do que digam analistas e políticas de plantão, nenhuma solução para a Síria. Esqueçam. É uma doença terminal de um país que morrerá e talvez ressuscite em alguns anos de uma forma bem diferente ao status quo até 2010. Aleppo já virou destroços, assim como Homs. Damasco ainda não, mas é quase impossível se salvar. Os sírios vivem a pior guerra civil dos últimos 30 anos, mais grave do que o Iraque e o Afeganistão. E vai piorar bastante.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires