O bombardeio de ontem se encaixa exatamente dentro deste contexto. Israel aparentemente alvejou um comboio de armamentos que estaria sendo levado da Síria para o Hezbollah, Líbano. Alguns dizem que seriam químicos, mas provavelmente se trata de arsenal convencional com boa capacidade de destruição.
Israel também se prepara para o risco de embates nas colinas do Golã. A área já tem a presença de grupos opositores da Frente Al Nusrah, uma organização rebelde ligada à Al Qaeda. O regime sírio, de uma certa forma, até acha interessante a presença da oposição na região para os israelenses sentirem os riscos do que pode ser a Síria depois de uma queda de Bashar al Assad, se esta vier a acontecer.
Os israelenses, corretamente, avaliam que não existe solução para a guerra civil na Síria, que ainda não chegou ao seu pior momento e deve durar anos, como a do Líbano ou a do Iraque. Os dois lados são péssimos. De um lado, está o regime que, embora secular, comete crimes contra a humanidade, perdeu o controle de porções do território e é aliado de dois inimigos de Israel - Irã e Hezbollah. Do outro, está uma oposição cada vez mais radical, com a presença de facções ligadas à Al Qaeda e responsável por crimes de guerra, segundo a ONU, além de alvejar cristãos e alauítas, normalmente associados a Assad.
O medo de Israel é que, caso o regime entre em colapso, estes armamentos acabem nas mãos do Hezbollah ou dos rebeldes ligados à Al Qaeda. Esta segunda opção amedronta ainda mais os israelenses. Afinal, no caso do Hezbollah, existe uma lógica no conflito, pois o grupo xiita possui lideranças claras, e os israelenses sabem exatamente os locais onde revidar no Líbano. Já os rebeldes sírios, especialmente os ligados à Al Qaeda, são anônimos e difíceis de localizar para uma resposta.
Enfim, lembrem sempre do triângulo. Israel é inimigo do eixo Síria-Hezbollah-Irã, que é inimigo do eixo Rebeldes Sírios-Al Qaeda-Qatar, que é inimigo de Israel.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires