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De Beirute a Nova York

Entenda o julgamento do atentado que matou o líder libanês Rafik Hariri

Começa hoje o julgamento sobre o atentado que matou Rafik Hariri em 14 de fevereiro de 2005, em Beirute, no Líbano

Por gustavochacra
Atualização:

Quem era Rafik Hariri?

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Bilionário da área da construção civil, fez fortuna na Arábia Saudita ao longo dos anos 1970 e 80, ficando distante da Guerra Civil do Líbano. Depois dos Acordos de Taif, que encerraram o conflito, no início da década de 1990, ocupou o cargo de primeiro ministro do Líbano até 2004, a não ser por um hiato no fim dos anos 1990. Por ser premiê, obviamente, era muçulmano sunita, de viés laico. Quando morreu, era líder da oposição libanesa

Se Hariri foi premiê nos anos 1990 e até 2004 e a Síria controlava politicamente o Líbano, ele era aliado de Damasco?

Sim, era aliado de Damasco até 2004. Também mantinha uma forte ligação com o Hezbollah e outros grupos libaneses. Sempre chamou a atenção por evitar divisões sectárias. Ficou famoso por ter liderado a reconstrução do centro de Beirute, embora tenha muitos críticos que o acusem de ter obtido ganhos pessoais com o processo (a empresa Solidere, responsável pela reconstrução, era dele). Não falava como um líder sunitas, mas como um líder libanês

Como foi o rompimento com Damasco?

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Hariri sempre manteve uma proximidade grande com a Arábia Saudita. Isso irritava Bashar al Assad. Os dois começaram a entrar em atrito. Em 2004, o regime sírio, junto com seus aliados libaneses, decidiu prorrogar o mandato do presidente Emile Lahoud, um cristão próximo a Damasco, por mais três anos. Hariri não aceitou a decisão

Como foi o atentado?

Uma caravana de seis carros, incluindo o de Hariri, estava diante do Hotel St. George, próxima da Marina de Beirute, quando foi atingida por uma mega explosão, ouvida em praticamente toda a capital libanesa, abrindo uma cratera no asfalto de dez metros de diâmetro por dois de profundidade. Os explosivos colocados em uma van equivaliam a 1.800 kg de TNT. Outras 22 pessoas morreram

O que representou a morte de Hariri para o Líbano?

O país era estável e próspero em 2005. Turistas retornavam ao Líbano depois dos 15 anos de guerra civil até 1990, mais a ocupação israelense do sul até 2000 (Israel ainda ocupa as Fazendas de Shebaa e Ghajjar). A dinâmica de Suíça do Oriente Médio voltava a ganhar força. Mas, depois da morte de Hariri, as divisões voltaram a se acentuar. Desta vez, entre sunitas e xiitas

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 O que é o Tribunal  Especial para o Líbano?

É um tribunal criado para investigar o atentado que matou Hariri com base em Haia, não em Beirute, e promotores de diferentes nacionalidades. Foram gastos mais de US$ 300 milhões até agora no processo

Quais as conclusões dos promotores?

Usando como evidências vídeos da van e ligações telefônicas, chegaram à conclusão de que quatro membros do Hezbollah foram os responsáveis pelo atentado

O que argumenta o Hezbollah?

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Nega o envolvimento e diz que as evidências foram fabricadas

Se os quatro forem condenados, o que pode acontecer?

O Líbano já está instável. Certamente, a condenação poderia incendiar ainda mais facções sunitas contra o Hezbollah. Também crescerão os argumentos de que o Hezbollah tem as armas não para lutar contra Israel (adversário de todos no Líbano, inclusive de Hariri), mas para usar contra os próprios libaneses. E diferencia-se do caso da Síria, onde o Hezbollah interviu, mas seus adversários no Líbano, também - o grupo xiita nega envolvimento no atentado contra a AMIA e a Embaixada de Israel em Buenos Aires

A formação do governo libanês pode ser afetada?

Talvez. Mas as facções 8 de Março, composta pelos xiitas do Hezbollah e da Amal, mais a maioria dos partidos cristãos, tende a chegar a um acordo para um novo gabinete de união nacional com a 14 de Março, liderada pelos sunitas de Hariri e algumas facções cristãs

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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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