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De Beirute a Nova York

Entenda os protestos contra a Irmandade no Egito

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas pedindo o fim da ditadura de Hosni Mubarak dois anos e meio atrás para ter o direito de conseguir eleger um presidente e viver em uma democracia no Egito. Hoje, milhões de egípcios estão na Praça Tahrir pedindo justamente a deposição do presidente eleito há um ano, Mohammad Morsy, e, alguns deles, pedem a sua substituição pelos militares.

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Por gustavochacra
Atualização:

O que aconteceu? Basicamente, o Egito conseguiu realizar uma eleição presidencial, mas esta não foi acompanhada de um processo para o estabelecimento da democracia. Não há respeito às instituições e a Irmandade Muçulmana, vencedora das votações, avaliou que a vitória seria uma carta branca para fazer o que bem entendesse e quatro fatores levaram a uma deterioração do cenário.

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Em primeiro lugar, Morsy e sua organização acabaram tentando governar sozinhos, ignorando os direitos das minorias religiosas e mesmo daqueles que discordavam de suas posições. Não pretendiam estabelecer um regime teocrático, como diziam alguns, pois isso nunca este nos planos da Irmandade. Mas deram uma guinada conservadora religiosa, não aceita por elevada parcela da população do Egito.

Segundo, a Irmandade não fez as pazes com a polícia. Desta forma, os policiais de uma certa forma sabotaram o governo e cidades como o Cairo se tornaram terra de ninguém - quer dizer, os índices de criminalidade atingiram patamares desconhecidos pelos egípcios, embora não tão elevados como em cidades brasileiras.

Terceiro, a vitória da Irmandade se deveu em grande parte à organização deste grupo. Eles souberam mobilizar seus militantes e fizeram uma campanha bem superior a seus adversários. Estes não possuíam estrutura nenhuma. Mesmo assim, quase metade da população votou com a oposição. Além disso, lembro que a eleição ocorreu um ano depois do fim da ditadura. No Brasil, demorou cinco anos entre fim do governo Figueiredo e a eleição de Collor. Talvez ainda fosse cedo e a transição incompleta.

Por último, um percentual elevado da população do Egito gostava da ditadura de Mubarak. Também preferem a segurança dos militares no poder. São como muitos brasileiros, argentinos e chilenos nos anos 1970 e 80. Na época, a dúvida, na visão destas pessoas, era entre o Exército no poder ou um regime comunista. No Egito de hoje, existe a preferência por um regime militar em vez de um de viés islamita.

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Ainda assim, seria lamentável os militares assumirem o poder neste momento. Morsy foi eleito e pode até sofrer um processo de impeachment se desrespeitou as leis. Mas a sua saída do governo seria um revés na transição para a democracia no Egito. 

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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