"O Hezbollah, por enquanto, é vitorioso na Síria. Mas sua imagem no Líbano se deteriorou devido ao seu envolvimento no conflito no país vizinho, especialmente entre os sunitas, que tendem a apoiar os rebeldes. Há o temor ainda de áreas xiitas de Beirute, como Dahieh, serem alvo de atentados terroristas cometidos por grupos opositores sírios - vale lembrar que alguns deles, como a Frente Nusrah, são assumidamente ligados à Al Qaeda.
Neste momento, o Líbano não ruma para uma guerra civil. Mas a instabilidade pode aumentar cada vez mais com o envolvimento direto do Hezbollah na Guerra Civil da Síria. Por outro lado, a consolidação da vitória de Assad deve reduzir a possibilidade de um conflito generalizado no território libanês."
Na minha avaliação, este ataque não será suficiente para levar o Líbano a uma guerra civil neste momento porque as principais forças políticas domésticas e externas são contra. Isto é, o Hezbollah e seus aliados cristãos ligados a Michel Aoun, além da Amal, não querem guerra, assim como a opositora 14 de Março, controlada por sunitas moderados. Irã, Arábia Saudita, Síria, EUA e França também se opõem.
Por este motivo, para evitar a deterioração do cenário, Nabi Berri, líder do grupo xiita secular Amal, aliado do Hezbollah e dos cristãos, apontou o dedo para Israel. O motivo é óbvio - acusar os israelenses equivale a não acusar ninguém. Está claro que, neste caso, salafistas (uma vertente ultra radical do islamismo sunita e em crescimento no Líbano) libaneses ou refugiados sírios ligados aos rebeldes são os maiores suspeitos, exatamente como estava previsto. Outros ataques podem acontecer.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires