Nos próximos dias, as forças de Assad devem recuperar Palmyra, atualmente nas mãos dos ISIS. São soldados sírios, majoritariamente muçulmanos sunitas e alauítas, mas também com soldados cristãos e drusos, que deve conseguir esta importante vitória contra o grupo terrorista. As forças de Assad também estão conseguindo reunificar Aleppo, maior cidade da Síria. Esta histórica metrópole estava dividida, com uma metade nas mãos do governo, onde cristãos são protegidos, e outra com rebeldes da oposição, muitas ligados à Al Qaeda, mas apoiados por nações europeias e países do Golfo (sim, é isso mesmo e vamos parar de hipocrisia).
Eu estive em Palmyra quando esta estava sob controle do regime de Assad. Fui com meu pai, mãe e irmãos no Ano Novo de 1997 para 98. Visitamos com total segurança, sem problemas e fomos muito bem recebidos por habitantes locais. Tiramos fotos, tomamos Pepsi e vimos um pouco da história mundial nestas ruínas.
Assad tem sim mil problemas. Mas, neste momento, o foco deve ser em combater o ISIS, não em derrubar o líder sírio. Quando o grupo terrorista tiver sido derrotado e a Síria estiver mais estabilizada, sem a presença de outros grupos terrorista como a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) ou Jaysh al Islam, deve haver uma transição. Até lá, derrubar Assad pode ser o fim de minorias como as cristãs e alauítas na Síria, que são protegidas pelo regime.
Neste momento, a Síria não se tornará um Canadá e nem mesmo uma Tunísia ou Líbano, para citar as duas democracias no mundo árabe. E grandes líderes estão em falta no Brasil, nos EUA e em grande parte da Europa. Não dá para imaginar que exista na guerra civil da Síria alguém muito melhor do que Assad. Todos são péssimos, mas Assad não está explodindo trens e aeroporto na Grécia. Quem faz isso é o ISIS, inimigo mortal de Assad, que está derrotando esta organização.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires