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De Beirute a Nova York

Estudantes palestinas se dividem sobre a culpa do Hamas na conflito da Faixa de Gaza

Dana, estudante da Escola Americana de Gaza, destruída em bombardeio israelense

Por gustavochacra
Atualização:

Gustavo Chacra ENVIADO ESPECIAL FAIXA DE GAZA

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Noor, Sherifa e Dana nasceram e cresceram em Gaza e têm entre 15 e 17 anos. Elas estudam na Escola Americana de Gaza, destruída em um bombardeio israelense em 3 de janeiro. Restou apenas a placa com o nome da instituição responsável pela formação da elite deste território palestino. Quase todos os dias, desde o cessar-fogo, estudantes se reúnem diante dos escombros para saber que passo tomar agora.

As três, como grande parte da classe média alta do mundo árabe, sonham em estudar nos EUA ou nas universidades americanas de Beirute ou do Cairo. Tarefa difícil. Os americanos dificilmente concedem vistos para palestinos da Faixa de Gaza, que não possuem passaporte de nenhum país. Em 2008, até bolsistas da prestigiosa Fundação Fulbright tiveram vistos negados.

As alunas da escola americana discutem, em inglês, sobre quem são os responsáveis pelo seu destino, sem educação, e pelos amigos mortos nos ataques israelenses. Como toda a sociedade palestina, as jovens estão divididas.

Noor culpa o Hamas e defende o Fatah. "Odeio o Hamas. Não culpo os israelenses. Foram atacados e se defenderam", diz a menina, que usa roupas ocidentais. "Você acha certo Israel destruir escolas, matar crianças? Como pode dizer isso?", questiona Sherifa, com hijab no cabelo.

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Noor afirma que os líderes do Hamas são covardes, assim como os israelenses. Sherifa responde que pior são os do Fatah, que apoiaram os bombardeios de Israel. Noor se exalta e grita que os líderes do Fatah ficaram aqui em Gaza sofrendo com os massacres, enquanto os do Hamas se escondiam em bunkers. "Covardes são eles."

"Basta!", grita Sherifa. Noor chora e conta ao Estado que o Hamas obrigou a família de um amigo seu a permitir que disparassem foguetes de dentro da casa. Israel respondeu e seu amigo morreu no ataque. Sherifa abraça a amiga e chora junto. A vítima também era amiga dela. Dana, mais calma, com o uniforme da escola, afirma que essa divisão é justamente o problema dos palestinos. "Deveríamos nos unir."

Uma menina mais nova aparece e pede para que tire uma foto dela diante da escola destruída. Entre alunos e professores, um sentimento difundido entre palestinos é o de que Israel alvejou tantas escolas justamente porque não quer que os palestinos tenham educação.

Os israelenses afirmam que a escola foi atingida porque disparos foram feitos dali. A resposta veio de um caça F-16. Era noite. Apenas o guarda morreu. Mas todas as memórias das classes, do pátio, da lanchonete e até os trabalhos da feira de ciências, segundo a secretária Lucy, foram destruídas.

OBS. Reportagem publicada na edição impressa do Estadao de hoje

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