Basicamente, em três meses, os americanos poderiam organizar o Mundial. Mas, de forma inacreditável, perderam a disputa para o pequeno Qatar, uma monarquia absolutista no Golfo Pérsico, com uma população menor do que a de Curitiba, temperaturas beirando os 40 graus e nenhuma tradição futebolística, precisando erguer estádios com ar condicionado no qual centenas de pessoas já morreram nas obras.
Esta foi a minha conclusão ontem depois de dar uma aula em conjunto com Sunil Gulati, presidente da US Soccer (a CBF dos EUA) e professor de economia dos esportes, e o professor Albert Fishlow, mais conceituado brasilianista no meio acadêmico americano, em evento organizado por Sidney Nakahodo, instrutor de uma matéria sobre Brasil na Universidade Columbia de Nova York.
O Brasil tem toda a legitimidade para organizar uma Copa. Somos pentacampeões mundiais e uma das maiores economias do mundo. Mas não tínhamos infraestrutura e a que construímos talvez seja insuficiente. No fim, o Mundial acontecerá e, caso a seleção brasileira não seja eliminada nas oitavas de final contra Holanda, Espanha ou Chile, tem tudo para dar certo - agora, caso haja eliminação, será difícil controlar a insatisfação da população. Daqui anos, se o Brasil for campeão, lembraremos do gol do Neymar na final, e não dos problemas enfrentados. Isso, insisto, se formos campeões.
Eu sou a favor da Copa da Mundo, mas entendendo o evento como uma festa. Teria feito com seis ou oito sedes e encararia como uma celebração para os brasileiros, não como uma necessidade para a nossa economia.
Gulati e Fishlow deixaram claro que a influência de um Mundial no PIB de uma nação com o tamanho da do Brasil é irrelevante. E a infraestrutura talvez seja importante no caso dos aeroportos (que deveriam ser modernos mesmo sem um Mundial), mas sem dúvida era mais prioritário construir hospitais e escolas do que estádios de centenas de milhões de dólares em cidades sem tradição futebolística como Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal - obviamente, a Fonte Nova, em Salvador, sempre estará lotada, assim como o Maracanã em um FlaFlu ou o Mineirão em Atlético-Cruzeiro. Mas pense rápido e diga o nome de um time do Mato Grosso?
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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