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De Beirute a Nova York

EUA temem, corretamente, um regime extremista sunita no lugar de Assad na Síria

no twitter @gugachacra

Por gustavochacra
Atualização:

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A Casa Branca, por meio de um porta-voz, afirmou que uma intervenção militar na Síria neste momento "apenas aumentaria o caos e a carnificina". Sem dúvida, o governo de Obama toma a decisão correta ao não se intrometer militarmente para conter a violência e avalia perfeitamente o cenário no território sírio. A expulsão de embaixadores e outras medidas simbólicas são o máximo que os Estados Unidos e seus aliados europeus podem fazer neste momento.

Ainda assim, outras nações, como o Brasil e a Suécia, consideram necessário manter os canais diplomáticos - em tempo, os americanos também pensavam assim até o começo deste ano e uma série de fatores internos, especialmente a pressão republicana em ano eleitoral, os levou a alterar a posição.

Independentemente destas medidas quase inócuas, a crise síria não pode mais ser descrita como a de um regime repressor matando com a Forças Armadas manifestantes pró-democracia. No início, até foi assim. Hoje, o contexto é bem maior.

Primeiro, o regime ainda reprime os opositores, mas usa não apenas as Forças Armadas como também milícias denominadas shabiha. São civis defensores de Bashar al Assad e operam em todo o país. A maior parte deles é composta por cristãos e alauítas que temem a instalação de um regime extremista sunita na Síria no futuro.

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No massacre de Houla, houve primeiro disparos de tanques do Exército. Mas as execuções foram levadas adiante por estas milícias que operam com relativa independência e consideram este conflito uma luta de vida ou morte. Suas vilas cristãs e alauítas ao redor de Homs também foram atacadas e um dos líderes destas duas religiões na região foi morto por opositores às vésperas da ação. Conflito sectário é assim - Sabra e Chatila, no Líbano, que o diga. Apenas quem não conhece as nações do Levante fica surpreso.

Esta divisão sectária existente especialmente nas regiões e Homs e Hama não se repete nas grandes cidades. Em Aleppo e Damasco, as elites sunitas, junto com as cristãs e alauítas, se posicionam ao lado de Assad, enquanto as camadas mais baixas e as facções mais religiosas estão contra o regime.

Em segundo lugar, a oposição também se divide em dois grupos - os armados e os manifestantes pacíficos. Aos poucos, os que portam armas começam a chamar a atenção e se sobrepor aos demais. E estes grupos armados também se dividem em dois. Há os desertores, que integram o Exército Livre da Síria, que lutam ao lado de alguns civis das regiões atingidas pela repressão, e os ligados a organizações salafistas apoiadas por braços de nações do Golfo Pérsico.

Esta multiplicação de milícias a favor e contra o governo, na avaliação da Casa Branca, impede qualquer forma de intervenção. Militares estrangeiros seriam sugados para o conflito, sem chance de sucesso, em uma repetição dos fracassos nas tentativas de impor a paz no Líbano nos anos 1980. Além disso, como o New York Times escreveu hoje, apesar de todo o discurso contra Assad, os EUA temem mesmo que um regime extremista sunita assuma o poder no ligar do atual líder sírio, que possui caráter secular.

O único país que detém algum domínio sobre a situação é a Rússia. Mas o governo de Vladimir Putin não se importa com desrespeito aos direitos humanos. Suas relações com Assad rendem frutos, como o uso do porto de Tartus como base no Mediterrâneo e a venda de armas para o regime. Para completar, existem as ligações com os cristãos ortodoxos sírios.

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Aceitem, não tem como interromper a violência na Síria. Eles irão se matar até cansar.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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