Estas ações islamofóbicas (anti-muçulmanas) ocorrem porque algumas pessoas associam o ISIS a todos os muçulmanos. Não levam em conta que o terrorismo do ISIS matou muito mais muçulmanos em países de maioria islâmica do que no Ocidente. Basta ver o Iraque, maior alvo desta organização terrorista. Tampouco levam em consideração que os soldados em terra lutando contra o ISIS no Iraque e na Síria são quase todos (99%) muçulmanos. Por último, ignoram as constantes condenações dos atentados cometidos pelo ISIS por parte de lideranças e membros de comunidades islâmicas.
Em parte, isso se deve à ignorância. Muitos no Ocidente nunca tiveram a oportunidade de conhecer um muçulmano e quando escutam notícias estas são sobre terrorismo. Não sabem que Zidane é muçulmano, para ficar em um exemplo simples. Se conhecessem muçulmanos, certamente teriam menos preconceito. Não é coincidência que Londres tenha um prefeito muçulmano - afinal, os moradores da capital britânica convivem nas escolas, no trabalho e mesmo na torcida do West Ham com amigos muçulmanos. Entendem nuances. O mesmo vale quando se observa que o sentimento islamofóbico em Nova York, onde há expressiva população muçulmana, é menor do que em áreas dos EUA onde praticamente inexistem muçulmanos.
O sentimento islamofóbico também se deve também à propagação de informações mentirosas em redes sociais sobre a população muçulmana. O terrorista supremacista branco de Oslo deixou claro em seus escritos e declarações que se inspirava em alguns dos mais notórios islamofóbicos dos EUA e da Europa. Estas pessoas que propagam o ódio aos muçulmanos devem ser repudiadas, assim como devemos repudiar radicais islâmicos que propagam o ódio e incentivam atentados.
Por exemplo, uma notória islamofóbica americana de origem libanesa insiste que os muçulmanos expulsaram os cristãos do Líbano e o mesmo pode ocorrer nos EUA. Curiosamente, o presidente do Líbano é cristão, assim como são cristãos metade do Parlamento, metade dos ministros, o chefe das Forças Armadas, o chanceler e o presidente do Banco Central libaneses. No Líbano, também está o Patriarcado Cristão Maronita, onde reside o patriarca Beshara Rai, ao lado da majestosa estátua de Nossa Senhora Harissa em uma colina sobre a baía de Jounieh no Mediterrâneo. Como, então, os cristãos teriam sido expulsos do Líbano como ela diz? Este é um tipo de mentira que me deparei diversas vezes na internet.
E também devemos condenar atos terroristas quando estes alvejam muçulmanos. Líderes internacionais devem agir como Theresa May, Sadiq Khan, Jeremy Corbyn, Angela Merkel, Justin Trudeau. Infelizmente, há um governante no Ocidente que sempre condena atentados, a não ser quando estes alvejam a população muçulmana.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires