O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acha errada a postura dos senadores, incluindo alguns de seu partido, o Democrata. Para o líder americano, se esta medida for levada adiante, o Irã terá argumentos para dizer que os EUA desrespeitaram o acordo. Mais grave, a China e a Rússia, além da Índia, devem dizer o mesmo e voltarão a fazer negócios com o regime de Teerã. Lembrem-se que indianos e chineses estão sedentos pelo petróleo iraniano.
Os defensores da posição de Obama dizem que, caso o Senado aprove novas sanções, uma solução não militar para a questão nuclear iraniana será praticamente descartada, a não ser que os americanos aceitem viver com um Irã nuclear.
Apenas para lembrar, o acordo interino prevê que o Irã enriqueça o urânio a apenas 5%, valor suficiente para a produção de energia nuclear. Será preciso eliminar o urânio enriquecido a 20%, que é apenas um passo antes do patamar suficiente para produzir uma bomba atômica. As centrífugas mais modernas não poderão ser implementadas. Obras relacionadas ao enriquecimento de plutônio na instalação de Arak estão suspensas. E a Agência Internacional de Energia Atômica poderá realizar inspeções intrusivas no Irã. Em troca, haverá um abrandamento nas sanções, com o Irã tendo acesso a bens financeiros congelados no exterior.
Caso o Irã não respeite, o Senado pode aprovar no mesmo dia uma nova rodada de sanções. Não há motivos para a antecipação. Além disso, contará com o apoio da comunidade internacional. Por enquanto, o ideal é esperar para ver se acordo interino será implementado e um acordo definitivo será alcançado. Não dá para cravar uma coisa nem outra.
Israel, por sua vez, deve manter a pressão sobre o Irã. Desta forma, o regime de Teerã saberá que o risco de uma ação militar contra as suas instalações ainda existe. Assim, os israelenses fariam o papel de "bad cop" e os EUA de "good cop".
Defensores do Irã dirão não ser justo o país ficar sem armamentos nucleares, enquanto os EUA, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Israel, Paquistão e Coreia do Norte possuem arsenal atômico. Mas o mundo não é simples e o Irã terá mais a ganhar sem estas armas poderá reabrir relações com a maior economia do mundo (os EUA), ter estabilidade interna e buscar desenvolvimento.
Turquia, Brasil, Alemanha e Japão são nações que, se quisessem, poderiam ter armas nucleares, mas optaram por não ter e estão bem. Tirando o Brasil, os demais têm inclusive o argumento de que seus vizinhos possuem armas atômicas. Mas tomaram uma decisão. Aparentemente, o Irã também tomou.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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