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De Beirute a Nova York

Manual para entender o ataque terrorista em Paris

Os principais responsáveis pelo atentado terrorista hoje em Paris que matou 12 pessoas são, primeiro, os dois atiradores e seus cúmplices, se estes existirem; em segundo lugar, a organização à qual pertencem, se é que eles pertencem a algum grupo; em terceiro lugar, a ideologia que seguem. Nenhuma religião é responsável pelas mortes. E nenhum cartoon, por mais racista que seja, justifica o ataque.

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Por gustavochacra
Atualização:

E o que sabemos até agora? Sabemos que dois indivíduos invadiram um jornal satírico francês e mataram 12 pessoas. Os atiradores teriam gritado Allahu Akbar antes de fugirem. Ainda não foram capturados. A publicação alvejada publicou no passado cartoons classificados por muitos como islamofóbicos (anti-islã) que foram criticados ao redor do mundo.

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A França tem leis que coíbem o antissemitismo, mas não a islamofobia. É diferente dos EUA, onde a primeira emenda da Constituição garante a liberdade de expressão e a pessoa pode ser antissemita e islamofóbica desde que não pregue a violência. Mas, voltando ao atentado, temos as seguintes perguntas

Quem são os terroristas?

Não sabemos ainda. Vídeos mostram dois homens mascarados.

Qual a organização responsável?

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Não sabemos ainda. Sequer sabemos se há uma organização envolvida. Pode ter sido um ataque de lobos solitários, como em Sydney. Ou pode não ter sido. O ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh) ameaçou recentemente atacara Charlie Hebdo. Outros grupos terroristas e indivíduos fizeram o mesmo no passado

Qual ideologia estaria por trás?

Neste caso, provavelmente os atiradores seguem uma versão deturpada do islamismo sunita - o mesmo da Al Qaeda e do ISIS. Noto que os principais grupos islâmicos da França e do mundo condenaram o atentado terrorista de hoje. E associar genericamente o ataque de hoje aos muçulmanos é um erro. Lembro que os dois atiradores possivelmente são muçulmanos e franceses. Mas Zidane, Ribery, Nasri e Benzema (literalmente, quatro dos melhores jogadores da história da França) também são muçulmanos e franceses. Você pode classificar muçulmanos franceses como terroristas ou como craques de futebol melhores do que os brasileiros. Mas ambas classificações seriam erradas. Cada indivíduo é de um jeito. O certo é que ninguém merece morrer por uma piada, mesmo se for racista. Basta não dar risada ou, melhor ainda, reagir com bom humor.

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1) As organizações islâmicas não condenaram o atentado?

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Condenaram. A Liga Árabe, que reúne todos os países árabes do mundo, a Al Azhar, considerada o principal centro de ensino islâmico do planeta, e todas as mais importantes organizações islâmicas dos EUA e da Europa condenaram o ataque terrorista. O mesmo vale para Chefes de Estado de todos os países de maioria muçulmana, que enviaram lamentos para os franceses

2) E os indivíduos muçulmanos condenaram o atentado?

Sim, conderam. Muitos participaram de manifestações condenando o atentado ao redor do mundo. Recomendo a hashtag #notinmyname no Twitter para ver exemplos de condenações

3) Mas os muçulmanos lutam contra os terroristas?

Sim. Centenas de milhares de muçulmanos lutam diariamente contra a Al Qaeda e o ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh) na Síria e no Iraque. Não há nenhuma força ocidental lutando contra eles em terra - os EUA participam apenas de operações aéreas e logística. São as Forças Armadas sírias, as Forças Armadas iraquianas, as Forças Armadas libanesas, os curdos (sim, os curdos são muçulmanos) que lutam diariamente contra estas organizações terroristas. Só não cravo que são 100% das forças porque há soldados cristãos no Exército libanês e sírio, além de milícias cristãs pró-Assad na Síria. Jordânia, Arábia Saudita e Egito, entre outros países, agem em parceria com agências de inteligência ocidentais para combater o terror

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4) Então os muçulmanos são da paz?

Em sua maioria absoluta, sim. Mas generalizar muçulmanos é um erro. Um turco imigrante na Alemanha não tem nada a ver com uma muçulmana libanesa Beirute ou um médico no Paquistão. Seria como dizer que um alemão luterano, um católico italiano, um evangélico na Guatemala e um cristão ortodoxo na Síria tivessem as mesmas ideologias. Há várias correntes dentro do islamismo. No caso dos xiitas, há clero (os aiatolás). Nos sunitas, não. E dentro destas vertentes, que não são hás únicas, há vários braços de pensamento. Alguns mais radicais e outros mais moderados. Muçulmano pode ser o Zidane ou o Bin Laden, a Malala ou o Menem, a rainha Rania ou o Mohammad Ali

5) E por que há tanto ataque terrorista cometido por muçulmanos?

Nos dias de hoje, de fato, há muitos ataques terroristas cometidos por muçulmanos. São maioria. Mas trago algumas curiosidades. Nunca um muçulmano sunita havia se matado em nome da religião até o início dos anos 1990. Centenas ou milhares o fizeram depois. Por que? Porque ganhou força uma ideologia radical em algumas mesquitas e madrassas ao redor do mundo. Com o YouTube, o alcance se tornou maior. E líderes terroristas usam a religião, assim como nazistas usaram o nacionalismo, para atrair seguidores e levar adiante ataques violentos. Lembro que muitas regimes ditatoriais, como a Rússia, Cuba, China e Coreia do Norte não são islâmicos. E há países de maioria muçulmana, como o maior deles, a Indonésia, além do Líbano, Paquistão, Turquia, Tunísia e Bangladesh que são democráticos

6) E o que você acha do ataque de hoje?

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Foi um ataque de dois terroristas contra a liberdade de expressão. Quem defende a liberdade de expressão deve repudiar este atentado

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Os principais responsáveis pelo atentado terrorista hoje em Paris que matou 12 pessoas são, primeiro, os dois atiradores e seus cúmplices, se estes existirem; em segundo lugar, a organização à qual pertencem, se é que eles pertencem a algum grupo; em terceiro lugar, a ideologia que seguem. Nenhuma religião é responsável pelas mortes. E nenhum cartoon, por mais racista que seja, justifica o ataque.

E o que sabemos até agora? Sabemos que dois indivíduos invadiram um jornal satírico francês e mataram 12 pessoas. Os atiradores teriam gritado Allahu Akbar antes de fugirem. Ainda não foram capturados. A publicação alvejada publicou no passado cartoons classificados por muitos como islamofóbicos (anti-islã) que foram criticados ao redor do mundo.

A França tem leis que coíbem o antissemitismo, mas não a islamofobia. É diferente dos EUA, onde a primeira emenda da Constituição garante a liberdade de expressão e a pessoa pode ser antissemita e islamofóbica desde que não pregue a violência. Mas, voltando ao atentado, temos as seguintes perguntas

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Quem são os terroristas?

Não sabemos ainda. Vídeos mostram dois homens mascarados.

Qual a organização responsável?

Não sabemos ainda. Sequer sabemos se há uma organização envolvida. Pode ter sido um ataque de lobos solitários, como em Sydney. Ou pode não ter sido. O ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh) ameaçou recentemente atacara Charlie Hebdo. Outros grupos terroristas e indivíduos fizeram o mesmo no passado

Qual ideologia estaria por trás?

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Neste caso, provavelmente os atiradores seguem uma versão deturpada do islamismo sunita - o mesmo da Al Qaeda e do ISIS. Noto que os principais grupos islâmicos da França e do mundo condenaram o atentado terrorista de hoje. E associar genericamente o ataque de hoje aos muçulmanos é um erro. Lembro que os dois atiradores possivelmente são muçulmanos e franceses. Mas Zidane, Ribery, Nasri e Benzema (literalmente, quatro dos melhores jogadores da história da França) também são muçulmanos e franceses. Você pode classificar muçulmanos franceses como terroristas ou como craques de futebol melhores do que os brasileiros. Mas ambas classificações seriam erradas. Cada indivíduo é de um jeito. O certo é que ninguém merece morrer por uma piada, mesmo se for racista. Basta não dar risada ou, melhor ainda, reagir com bom humor.

 

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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