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De Beirute a Nova York

Meu depoimento sobre os ataques em Dallas, Minnesota e Louisiana

Eu estou onde estou por causa de Dallas. Meu pai foi fellow de medicina nesta cidade texana, onde nasceu meu irmão mais velho. Graças a Dallas e ao sistema educacional e médico americano, meu pai pôde voltar ao Brasil e se destacar na área de tratamento do Diabetes, permitindo que ele proporcionasse a minha educação e sempre ambicionasse seguir os passos dele e vir estudar nos EUA.

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Por gustavochacra
Atualização:

E ontem Dallas, esta cidade que sempre foi mágica para mim, virou uma praça de guerra. Cinco policiais foram mortos por um atirador, que deveria ser classificado como terrorista. Estes policiais estavam realizando o seu trabalho e garantindo a segurança de pessoas que se manifestavam contra a violência policial. Deixaram mulheres viúvas e filhos órfãos.

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Estes policiais não são os mesmos que mataram negros inocentes na Louisiana e em Minnesota. Existe violência policial com viés racista nos EUA? Lógico! Há vários casos filmados e documentados. A maior parte dos policiais é racista? Claro que não. A maior parte executa pessoas pelo simples fato de elas serem negras? Não. Mas alguns executam? Sim.

Aliás, Dallas é um oásis de diversidade. As pessoas podem ter a imagem estereotipada dos texanos como cowboys agressivos. Mas Dallas, assim como Austin, San Antonio e Houston, é uma metrópole multicultural. Sua polícia tem enorme diversidade. Cerca da metade é composta por minorias. O líder da polícia de Dallas, David Brown, é negro. Não há, em Dallas, histórico de violência policial como em Baltimore ou nos subúrbios de St. Louis. E o Texas tem muitas qualidades. Basta ver a cena musical e de cinema em Austin, considerada a melhor cidade dos EUA.

Este é um momento que os americanos precisam se unir. Precisam valorizar a polícia, ao mesmo tempo que devem condenar os policiais que executam inocentes. E, por favor, não condenem os manifestantes contra a violência policial. Eles se manifestaram pacificamente ao redor dos EUA. Era sim necessário protestar depois de Minnesota e Lousiana.

Mas um imbecil racista, lobo solitário, que matou os policiais com argumento de que queria "matar brancos" - e acabou matando ao menos um policial negro. Insisto, apenas uma pessoa fez este ataque. Não generalizemos. Vamos ver nuances.

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Para terminar, há sim um acirramento dos ânimos nos EUA. Tem sim uma tensão racial maior nos últimos dois anos. Mas ainda está longe do patamar de 1968 e, acima de tudo, de Los Angeles em 1992. Em parte, isso se deve à possibilidade de vermos os vídeos da violência de alguns policiais. Isso ocorria antes, mas não podíamos ver as imagens, hoje capturadas pelos celulares.

Ficam meus sentimentos para a família da vítima na Louisiana, para a família da vítima em Minnesota, e para as famílias dos policiais em Dallas. E espero que os policiais assassinos da Louisiana e de Minnesota sejam indiciados. O assassino de Dallas foi morto. Torço para que tenha sido um caso isolado.

E, por último, meus sentimentos para Dallas. Desde pequeno, tive orgulho de ser a cidade do meu irmão, onde meus pais começaram a vida de casados deles, e de ter nos carros da minha casa os adesivos do Dallas Cowboys.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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