Antes de prosseguir, quero deixar claro que a saída americana apenas se concluirá no dia seguinte à próxima eleição presidencial de 2020. O futuro presidente, caso Trump não se reeleja, talvez mantenha os EUA no acordo. Estados como Nova York e Califórnia implementarão medidas do Acordo de Paris independentemente do que decidiu Trump. Grandes corporações, idem (até a Exxon Mobil). E o presidente americano já vinha desregulamentando a área ambiental apesar do acordo. Pelo menos, agora tudo está às claras.
A questão mesmo é o isolacionismo de Trump nesta questão do clima. O líder americano está batendo de frente abertamente com todas as nações do mundo, incluindo aliados históricos da União Europeia, que não irão renegociar o acordo. E não venham dizer que a Nicarágua e a Síria não integram o acordo. Na verdade, os nicaraguenses, que estão entre os mais ameaçados pelo aquecimento global, consideraram o acordo muito fraco e adotam medidas ainda mais rigorosas do que as acertadas em Paris. Isto é, os motivos são opostos aos de Trump. A Síria, por sua vez, não conseguiu enviar uma delegação para assinar.
Não me interessa que alguns virão aqui propagar teorias da conspiração e me atacar. Tem momentos que é melhor aguentar estes ataques do que se calar. É o nosso futuro que está em jogo. Não se trata de um tema "polêmico" do Twitter. Ainda bem que o mundo tem estadistas como Angela Merkel.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires