O risco de ele e de outros prisioneiros cometerem um atentado era tão baixo ou inexistente que a Justiça Militar dos EUA concordou em libertá-los. O problema é que nenhum país tinha interesse em dar asilo. Até o então presidente do Uruguai José Mujica se oferecer para receber seis destes prisioneiros - há muitos outros ainda mantido como prisioneiros porque ninguém os quer receber e seus países são extremamente perigosos para a segurança deles.
Nos primeiros meses, os ex-prisioneiros foram muito bem recebidos no Uruguai. São jovens que passaram cerca de um terço de suas vidas detidos em uma prisão militar mesmo sem terem cometido um ato terrorista - ao menos, segundo os EUA, não dá para provar ou sequer acusa-los de envolvimento com terrorismo.
Com o passar do tempo, eles tiveram dificuldade para se adaptar. Apesar das boas intenções do Uruguai, o país, diferentemente da Arábia Saudita ou da Suécia, não possui programas avançados para incorporar asilados aos seus países. Eles não dominavam o espanhol e possuem dificuldade para trabalhar. Dois deles se casaram, mas foram acusados de violência doméstica.
Os ex-prisioneiros também não se conformavam em não poder circular pelo mundo, já que são, em teoria, inocentes. Mais complicado, os de origem síria não tem como voltar para seu país, que está em guerra civil. Aliás, quando eles foram presos, a Síria ainda era um dos países mais estáveis do Oriente Médio, sem nenhum atentado terrorista.
Enfim, não sei e ninguém sabe se Deyab teve envolvimento ou não com o terrorismo. Os EUA, com todos os seus serviços de inteligência e o interrogando centenas de vezes em Guantánamo, não descobriu nada. Tanto que o libertou. Portanto Deyab, com todos os seus defeitos, não pode ser chamado de terrorista. Houve sim caso de prisioneiros libertados que acabaram se envolvendo em terrorismo no Oriente Médio. Mas a maioria não cometeu ataques antes nem depois. Foram presos por estar no lugar errado na hora errada.Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires