Foram várias boas notícias nas últimas semanas para o Oriente Médio. O Líbano e a Síria, pela primeira vez na história, vão trocar embaixadores. Ehud Olmert, premiê de saída em Israel, disse que haverá paz apenas quando os israelenses desocuparem todos os territórias árabes. A Síria e Israel dialogavam, ainda que indiretamente.
O Hamas e o Fatah estabeleceram um canal de negociação. Tzipi Livni, ministra das Relações Exteriores de Israel e, para muitos, a esperança para a retomada do do processo de paz com os palestinos, estava próxima de formar um governo. A violência no Iraque estava no menor nível nos últimos anos. Israel passou a ver com bons olhos a proposta de estabelecimento de relações diplomáticas feita há seis anos pelos países árabes capitaneados pela Arábia Saudita.
Facções cristãs rivais do Líbano que não se falavam desde a guerra civil ensaiavam uma reconciliação. E, no sábado, o ponto máximo, com o encontro cordial do líder do Hezbollah e da comunidade xiita libanesa, Hassan Nasrallah, com Saad Hariri, principal liderança política sunita do Líbano. Para completar, Barack Obama, favorável a mais diplomacia e menos guerra, disparava nas pesquisas americanas.
Um avanço para uma região que, no ano passado, teve quase uma guerra entre sírios e israelenses, havia a constante ameaça de bombardeio americano ao Irã, o cenário no Iraque era o pior possível, e, enquanto o Líbano estava a beira de uma guerra civil, os palestinos já tinham dado início a uma. Relações entre libaneses e sírios pareciam um sonho, sunitas e xiitas em Beirute se odiavam a cada dia mais e os cristãos pareciam querer de qualquer maneira retornar aos anos 1980.
Até que chegou o domingo, dia 26 de outubro. E o Oriente Médio voltou a ser o Oriente Médio, como em 2007 e em quase todos os anos de sua história. Estes últimos meses de 2008 pareciam uma miragem. Tzipi Livni foi enrolada pelo partido ortodoxo judaico Shas, e ficou sem condições de formar uma coalizão. Israel convocou eleições, e ficará no limbo até fevereiro, com seus inimigos sabendo da fragilidade israelense, o que sempre é um incentivo para uma provocação.
Os Estados Unidos decidem, após cinco anos no Iraque, que este era o momento de atacar sírios em território sírio e sem avisar o governo sírio. E, com vergonha, não assumem uma ação que matou crianças e, talvez - não é comprovado -, um suposto terrorista. Bem agora, que a Síria, graças à França, vinha mudando o seu comportamento em relação ao Líbano, a Israel e também ao Iraque. Pior hora não existia.
Os cristãos libaneses tampouco se acerteram. Os palestinos, pelo menos até saberem quem serão os governantes de Israel e dos EUA, completarão mais um ano sem Estado, apesar de, pela primeira vez, terem assistido a uma partida de futebol de sua seleção na Cisjordânia. Ontem, o direitista israelense Avigdor Lieberman decidiu atacar um dos poucos países árabes em paz com Israel. Disse que o presidente egípcio, Hosni Mubarak, poderia ir para o inferno.
E ninguém sabe como será 2009. Temos que esperar. Primeiro, a eleição americana, em 4 de novembro. Depois, a eleição israelense de 10 de fevereiro - acho difícil que os palestinos, nas atuais condições, realizem a sua prevista para janeiro. Depois, será a vez do Líbano, em maio - quando tentará provar que existe mais de uma democracia no Oriente Médio. Para completar, o Irã elege ou reelege seu presidente. Se bem que, especula-se em jornais de Beirute, Teerã teria uma grande surpresa. Sabendo que não anda tão popular, Mahmoud Ahmedinejad pode desistir de disputar o pleito para, no futuro, argumentar que não foi derrotado. Veremos. Até lá, talvez, tenhamos até uma nova guerra. Ou uma paz inesperada.