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De Beirute a Nova York

O que deveria ter sido feito na Síria e no Iraque para conter o ISIS?

Tenho lido alguns analistas nos EUA argumentando que foi um erro não ter realizado uma intervenção na Síria no começo do conflito para evitar o crescimento do ISIS no país e também no Iraque. Esta é uma afirmação falsa. Ninguém defendia uma intervenção para conter o ISIS. Falavam em uma ação para derrubar Bashar al Assad, não para frear os extremistas deste grupo ultra radical.

Por gustavochacra
Atualização:

Quem acompanha mesmo o conflito na Síriasabia desde o início que havia radicais entre os grupos rebeldes. Escrevi sobre este tema quando estive na Síria em outubro de 2011. Mas havia uma tentativa externa de descrever os opositores como democratas, valorizando um suposto lado moderado do grupo rebelde Exército Livre da Síria. Mais incrível, diziam que o regime de Damasco era responsável pela totalidade das vítimas, hoje estimadas em 150 mil, quando na realidade este é o número de mortes causadas por todos os lados no conflito.

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O único fracasso da campanha de relações públicas vinda do exterior foi no caso dos cristãos, pois estes próprios deixaram claro que estavam ao lado de Assad. Alguns por genuinamente gostarem dele e outros por o acharem o menor dos males diante de uma oposição que certamente varreria os cristãos iraquianos do mapa.

Na verdade, se houvesse intervenção para derrubar Assad, provavelmente grupos como o ISIS e a sua rival Frente Nusrah (braço armado da Al Qaeda na Síria) estariam no poder em Damasco, teriam massacrado, como já massacram, as minorias cristãs, alauítas e drusas, que apoiam Assad, além dos sunitas moderados.

A melhor alternativa para a Síria foi a não intervenção e, no fundo, foi uma opção mesmo do governo Obama que, independentemente da retórica, sabe bem a realidade síria e dos erros recentes. No Iraque, os EUA enviaram centenas de milhares de soldados e não adiantou nada. Hoje parte do país, incluindo a segunda maior cidade, está nas mãos do ISIS. Na Líbia, os bombardeios derrubaram Kadafi e hoje o país é comandado por uma série de milícias, algumas delas ligadas à Al Qaeda - até o embaixador dos EUA morreu em atentado. O armamento de opositores foi testado na própria Líbia e no Afeganistão nos 1980 - neste caso, culminou na formação do Taleban e da Al Qaeda.

No caso do Iraque, se Nuri al Maliki tivesse formado um governo de coalizão mais inclusivo, como propunha seu rival e também xiita Ayad Allawi anos atrás, o cenário tenderia a ser mais calmo. Os sunitas, especialmente os moderados, se sentiriam mais representado pelo governo e não apelariam para os radicais do ISIS e ex-membros do regime de Saddam.

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George W. Bush determinou em 2008  a retirada das tropas de combate em 2011. A ideia, porém, era a permanência de tropas residuais - cerca de 5 mil. Mas o governo de Obama não conseguiu assinar um acordo com Maliki. Por que? Provavelmente porque Maliki leva em consideração mais seus aliados em Teerã do que os de Washington. E o regime iraniano não queria mais a presença de americanos no país.

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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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