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De Beirute a Nova York

O que é Beirute? Uma fantástica capital mediterrânea em meio a guerras e inimigos

Veja Meus comentários sobre a Síria no Globo News m Pauta e no Jornal das Dez

Por gustavochacra
Atualização:

Muitas pessoas me perguntaram nos últimos dias como está Beirute, onde passei a semana passada. Na superfície, continua sendo uma das mais fantásticas cidades do Mediterrâneo. Vou começar pela Hamra, uma área tradicionalmente sunita, mas atualmente mista com a presença de muitos hotéis e estudantes da Universidade Americana de Beirute, a melhor do mundo árabe.

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No café Younus, jovens libaneses discutem a política da região ao lado de jornalistas locais e estrangeiros com seus computadores. No Costa Café, há refugiados sírios de classe média esperando o tempo passar. No Hamra Café, meninas de ar meio hipster que poderiam estar em Williamsburg ou na Vila Madalena conversam com outras de hijab, mais conservadoras.

Refugiados sírios mais pobres pedem dinheiro insistindo que estão fugindo da guerra. Como sempre, as ruas de Hamra continuam com um vibração única, literalmente 24 horas, com os jovens migrando dos cafés para os bares depois da meia-noite. Há também, na área, muitas exposições de arte.

Na parte oriental da cidade, o bairro de Ashrafyeh, coração cristão de Beirute, permanece elegante. Restaurantes como o Abdul Wahab ainda servem pratos da culinária libanesa que tanto sucesso fazem ao redor do mundo, em lugares como São Paulo e Nova York. Sempre chama a atenção a calma das igrejas de diferentes denominações cristãs. O Líbano é um oásis para o cristianismo no Oriente Médio - o outro era a Síria. O shopping ABC, mais voltado ao público local, permanece cheio com libaneses indo ao cinema.

Gemeyzah, por muitos anos o centro da vida boêmia libanesa, também na área cristã, perdeu espaço. Nada relacionado à crise na Síria. Na verdade, os frequentadores simplesmente migraram para outras regiões de Beirute, como Hamra.

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O centro reconstruído de Beirute, conhecido como Solidere, sofre com a ausência de turistas do Golfo, deixando muitos restaurantes vazios e as lojas do sofisticado Beirut Suks, um shopping de marcas caras em formato de mercado árabe, com as vendas em baixa. Ali perto, Seif Village, também reconstruída, mantém suas caras e charmosas ruazinhas totalmente calmas como se fosse uma pequena vila europeia.

Chama muito a atenção a vitalidade da Marina de Beirute, concretizada recentemente, próxima ao Hotel Phoenicia. Os iates gigantescos lembram Monte Carlo. Os prédios novos como o do Hotel Four Seasons remontam a Dubai. O Phoenicia, mais tradicional, dá um ar de Copacabana. Os restaurantes ao redor da marina parecem os da Docas de Alcântara, em Lisboa, ou os do Puerto Madero, em Buenos Aires. Mas, em vez de servir bife de chorizo, servem kafta.

No Corniche, um calçadão de quilômetros que começa no Rauche, pedra símbolo de Beirute e gêmea de outra em Capri, e termina no Hotel San George, uma das últimas marcas de destruição da Guerra Civil encerrada há mais de duas décadas, jovens mergulham de pedras no mar enquanto outros fumam narguilé. Alguns mais velhos pescam. Lembraria o Malecon, de Havana, não fosse pelos banhos, ou praias, privadas com a elite libanesa. Mães com filhos pequenos, mulheres de biquínise homens recém saídos da academia.

Beirute, na superfície, não está tão diferentes das várias outras vezes que estive na cidade ao longo dos últimos 15 anos como turista ou jornalista. Permanece fantástica e surpreendendo visitantes. Por acaso, encontrei o sogro do meu primo, de Maceió, que estava a negócios na cidade com o filho - não são descendentes. Eles estavam completamente encantados com a magia da capital libanesa, que apaixona tantas pessoas ao redor do mundo.

 Houvesse paz na região, daria para pegar um carro em Tel Aviv, outra metrópole fenomenal com sua arquitetura Bauhaus e seus cafés no Boulevard Rothschild que tanto se parecem com os da Hamra, em Beirute, e seguir pela costa cruzando de Israel para o Líbano. Sem falar em Damasco, Aleppo, Jerusalém, Belém, Haifa, Nablus e Petra.

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Mas Beirute é a capital de um país dividido entre diferentes facções políticas, com grupos armados como o Hezbollah (xiita), Forças Libanesas (cristã) e salafistas (sunitas), ao lado da Síria, uma nação em guerra civil, e de Israel, um inimigo. Uma pena.

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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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