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De Beirute a Nova York

O que significa a permissão para mulheres sauditas dirigirem?

A Arábia Saudita finalmente permitiu que mulheres possam dirigir. O atual rei Salman tem dado alguns sinais de liberalização. Isto não significa que o regime saudita deixe de ser um dos mais fechados de todo o planeta. Esta iniciativa pode ser mais bem entendida como parte de uma tentativa de modernização do país para melhorar um pouco a sua péssima imagem.

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Por gustavochacra
Atualização:

O rei Salman sofre influência de seu filho, o MBS (o príncipe Mohammad bin Salman), que é o herdeiro da coroa. Com pouco mais de 30 anos, ele seria mais sintonizado com a juventude saudita, ansiosa por mais aberturas internas. Não que o objetivo seja virar o Canadá ou a Suécia. Mas talvez ter um grau de "liberdade" mais próximo dos Emirados Árabes, Bahrain ou Kuwait. Basicamente, onde ao menos as mulheres possam dirigir. No melhor dos cenários, seguirá mais conservadora do que o Egito, que já é conservador para padrões ocidentais.

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Nem nos sonhos a Arábia Saudita chegará perto da Turquia ou do Líbano em termos de liberdade das mulheres. Isso nunca acontecerá. Com o Irã, a comparação é complicada. Afinal, a sociedade iraniana sempre foi mais sofisticada e avançada do que a saudita, apesar do regime. Insisto no apesar, porque os aiatolás são tão retrógrados quanto os membros do regime saudita. A diferença é que há mais liberdades para mulheres e direito ao voto. Por favor, não coloquem palavras na minha boca e não estou chamando o Irã de democracia. Apenas dizendo que a vida de uma mulher iraniana é menos pior do que a de uma saudita, embora a de ambas sejam péssimas. Claro que o cenário muda se você for da elite no Irã. Neste caso, sua vida será bem melhor.

Além de medidas como a da permissão para mulheres dirigirem, a Arábia Saudita, dependente do petróleo, também está buscando diversificar a economia. Este é um fenômeno de todo o golfo, sendo Dubai o exemplo mais claro. Hoje este Emirado tem uma economia extremamente diversificada com serviços, turismo, aviação e portos. Outros como Qatar e Abu Dhabi investem pesado em educação. Os sauditas estão indo nesta linha.

Tenho dois amigos brasileiros vivendo na Arábia Saudita neste momento e ambos avaliam que pego pesado com o país. Realmente, nunca estive em Riad ou Jeddah, as duas grandes metrópoles sauditas. Não é uma nação que eu conheça bem, como conheço o Líbano e a Síria. Sempre tive mais interesse no Mediterrâneo Árabe do que no Golfo. Isso dificulta um pouco para eu ter uma visão melhor do cenário doméstico. Talvez eu exagere nas minhas críticas. Vamos ver o que eles acham deste texto.

Em política externa, não há muita discussão. A Arábia Saudita bombardeia o Yemen em uma guerra inútil e é responsável pela morte de centenas ou mesmo milhares de iemenitas. As exigências feitas ao Qatar foram bizarras e desnecessárias. O país apoia também milícias ultra extremistas na guerra Síria.

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Para completar e mais grave, apesar de ser aliada dos EUA no combate ao terrorismo, a Arábia Saudita dissemina uma vertente radical do islamismo sunita ao redor do mundo. Esta ideologia acaba sendo usada por alguns para justificar o terrorismo. É o caso do ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh), Al Qaeda, Boko Haram, Al Shabab e Taleban. Se tiver um atentado agora na Europa, você suspeitará de um grupo ligado a esta ideologia wahhabita dos sauditas, não a grupos patrocinados pelo Irã.

Sempre bom lembrar que 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro eram sauditas. Nenhum iraniano, sírio, somali, do Chade, líbio, iemenita ou norte-coreano. Mas a Arábia Saudita não foi incluída na lista da Trump. Aliás, foi o primeiro país que o presidente visitou. E ele não é o primeiro líder americano tão amigo dos sauditas. Meio estranho, não?

 

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