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De Beirute a Nova York

Oposição síria precisa se distanciar de grupos terroristas

Damasco era uma das cidades mais estáveis do Oriente Médio até três anos atrás. Diplomatas gostavam de ir viver na capita síria devido à segurança para criar os filhos em um país que, para os padrões ultra conservadores da região, era relativamente liberal, com bons restaurantes, vida noturna, peças de teatro a proximidade com a cosmopolita Beirute, no Líbano.

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Por gustavochacra
Atualização:

Hoje, tudo mudou. Damasco é a capital que enfrenta a maior onda de violência em todo o mundo árabe. Verdade, ainda não chegou ao patamar de Aleppo, centro econômico da Síria, que se tornou um campo aberto de batalhas, com divisões de seus bairros entre o regime e diferentes facções opositoras, em uma repetição do cenário vivido em Sarajevo, na Bósnia, nos anos 1990.

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A explosão do carro-bomba na parte moderna (no sentido de não ser a parte murada, milenar, da capital síria) ontem e as recentes ofensivas da oposição buscam levar para Damasco o conflito, forçando a população a adotar um dos lados na guerra, conforme bem colocou Joshua Landia, especialista em Síria da Universidade de Oklahoma. Esta, porém, não foi a primeira vez que Damasco foi alvo de um atentado terrorista nesta guerra civil e tampouco será a última.

Os opositores enfrentam dificuldades para penetrar na cidade, fortemente defendida pelas mais bem armadas forças de segurança do regime. Os grupos mais laicos, como o Exército Livre da Síria (ELS), tentam utilizar tradicionais táticas de guerrilha, buscando controlar distritos e cortar rotas de abastecimento do regime, por exemplo. Existe uma preocupação de não sair matando aleatoriamente civis. Embora ainda não tenham atingido o seu objetivo, o "viés", como diriam os economistas, é de que eles obtenham sucesso.

Mas algumas facções da oposição síria, ligadas à Al Qaeda, não estão interessadas em efeitos colaterais e chegaram à conclusão de que a melhor alternativa para enfraquecer Assad é realizar atentados terroristas, como os de ontem. Estas ações sem dúvida assustam o regime e favorecem no sentido de finalmente levar o conflito para Damasco.

Por outro lado, possuem o efeito negativo de deixar a população da capital síria receosa sobre o que pode acontecer se o atual líder sírio for derrubado e podem mantê-los ao lado de Assad. Ninguém quer no poder uma organização que coloca carros-bomba no centro da cidade para matar civis.

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Por este motivo, a oposição síria precisa urgentemente se distanciar destes grupos ligados à Al Qaeda, como a Nusra Front, considerado terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA, mostrando que eles não representam os ideais dos rebeldes. Por mais que o alvo tenha sido Assad, eles devem condenar o atentado terrorista. Isto os deixará com maior credibilidade perante a população.

Os habitantes de Damasco, por sua vez, sabem que a cidade nunca mais será aquele oásis de estabilidade de anos atrás. Hoje, podem torcer para não ficar como Aleppo. Pelo menos, querem preservar o centro histórico da cidade, com a mesquita dos Omíadas, o quadrilátero judaico, o suq Hamidyia e o bairro cristão de Bab Touma. Mas, se tiverem condições, deveriam tentar fugir para o Líbano ou para as áreas próximas da costa mediterrânea, ainda não atingidas pela guerra.

É uma tristeza, mas Damasco, com 10 mil anos de idade, pode sofrer uma das maiores destruições de sua história.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009 e comentarista do programa Globo News Em Pauta, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti, Furacão Sandy, Eleições Americanas e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen.No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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