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De Beirute a Nova York

Perguntas e respostas sobre a Síria depois do ataque químico

Não dá para cravar quem teria sido o responsável pelo ataque químico de ontem na Síria. O New York Times mantém a cautela e chega a dizer que sequer pode-se garantir ter ocorrido um uma ação com armamentos químicos. Temos cenas horrendas de seres humanos mortos sem sinais de sangue. Agora, vamos tentar responder a algumas perguntas para saber o que pode ocorrer. As perguntas são

Por gustavochacra
Atualização:

Houve ataque químico na Síria?

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Tudo indica que sim. Mas, para provar, será necessária uma inspeção independente. Temos, neste momento, inspetores da ONU na Síria. A pressão internacional deve se concentrar totalmente em forçar o regime sírio a aceitar uma investigação

Se foi ataque químico, quem seria o responsável?

Escrevi sobre isso ontem. O principal suspeito ainda é o regime pela dimensão do ataque. Talvez tenha sido uma ação das forças sírias a revelia do alto escalão. Não pode-se descartar ter sido um grupo rebelde - lembrem da operação com sarin de um grupo terrorista japonês no metrô de Tóquio. E, por último, mais improvável, uma força estrangeira

Se foi o regime, qual era o objetivo?

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Pela lógica, o regime não teria motivo para usar químicas. Afinal, o governo Obama considera o uso deste arsenal um divisor de águas. Com armamentos convencionais, o regime poderia matar a vontade. Por outro lado, ao usar armas químicas, Assad faria uma demonstração de força para os opositores, mostrando que não haverá limites para a repressão. No Oriente Médio, a lei do mais forte prevalece. É o que Thomas Friedman chama de "Hama Rules"

Se foi a oposição, qual seria o objetivo?

Existem mais de mil grupos rebeldes na Síria com agendas distintas. Alguns deles são terroristas. A ação seria, neste caso, para tentar culpar o governo e pressionar atores externos a intervirem na Síria

Se foi o regime, qual será a reação internacional? Haverá intervenção?

Neste momento, todos os países pressionam por uma investigação do ataque pelos inspetores da ONU. Caso se comprove algo apontando para o regime (será difícil conseguir), a Rússia ainda assim bloqueará uma resolução autorizando intervenção no Conselho de Segurança. A França, por sua vez, já disse que precisa haver uma resposta. Certamente não haverá envio de tropas, especialmente sabendo que o regime poderia se defender com armas químicas. O mais provável seria um bombardeio isolado, nos moldes de Reagan contra Kadafi nos anos 1980 - as cenas são muito fortes para não haver resposta alguma. Uma zona de exclusão aérea, como a implementada contra Saddam Hussein depois de ataque contra os curdosnos anos 1990, também pode ter uma alternativa. O Ocidente, apesar da retórica, não quer a queda de Assad pois considera a oposição mais perigosa - o general Martin Dempsey, principal comandante militar americano, deixou claro que os rebeldes não representam os interesses dos EUA

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Se foram membros do regime a revelia de Assad, qual será a reação?

Será muito difícil provar que isso teria ocorrido e tudo cairia nos colos de Assad de qualquer maneira, com um cenário similar ao anterior

Se foi um grupo rebelde, o que ocorrerá?

Certamente Assad, que já vence no campo de batalha, terá uma vitória também nas relações públicas e o regime sírio se fortalecerá ainda mais

Tirando o ataque químico, como está a guerra?

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As forças de Assad obtiveram uma série de vitórias nos últimos meses com o apoio do Hezbollah. Controlam as principais cidades, a não ser Aleppo, que está dividida. O regime conta com apoio de cristãos (10% da população), alauítas (também 10%), druzos (idem) e sunitas seculares, enquanto os rebeldes são majroitariamente sunitas religiosos - uma divisão parecida com a do Egito. A oposição está rachada, com conflitos internos. Áreas curdas ficaram praticamente independentes

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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