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De Beirute a Nova York

O que é o Wahabbismo, a ideologia por trás do ISIS (Daesh) e da Al Qaeda?

Por gustavochacra
Atualização:

Obviamente nenhuma pessoa séria acha que todo muçulmano é terrorista. Sim, existe um percentual bem pequeno de idiotas islamofóbicos que difunde esta informação, mas eles devem ser ignorados. Alguns, mais por falta de informação do que por preconceito, acham que todos os terroristas são muçulmanos. Estão equivocados. Nos EUA, por exemplo, não são. Segundo o FBI, os terroristas supremacistas brancos oferecem um risco maior.

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Mas há sim um crescimento exagerado no terrorismo em nome do Islã nas últimas três décadas, deteriorando a imagem da religião como um todo. Chega a ser chocante saber que o primeiro sunita a cometer um atentado suicida foi em 1992 (um palestino do Jihad Islâmico). Apenas como comparação, o Palmeiras foi campeão brasileiro pela última vez em 1994 (sou palmeirense). Hoje, temos o Boko Haram, o ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh), Al Qaeda, Al Shabab e Taleban, entre vários outros. Etodos estes grupos são sunitas e todos são seguidores da vertente wahabbita do islamismo sunita. E, juntos, responsáveis por dezenas de milhares de mortes ao redor do mundo. Esta vertente wahabbita surgiu no século 18 e foi marginal dentro do islamismo sunita até a Primeira Guerra Mundial. Ganhou força com os Saud se aliando aos britânicos no conflito e, posteriormente, derrotando o Sherif de Mecca, bem mais tolerante, para conquistar a cidade sagrada. Noto que os filhos do sheriff, também aliados do Reino Unido, ganharam de presente o Iraque e a Jordânia. Mas esta é uma outra história. A Arábia Saudita nasceu de um acordo da família Saud com a ideologia wahhabita, muito forte neste território. Mas não se expandiu para outra regiões de maioria islâmica até os anos 1980. A partir desta data, o regime saudita começou a disseminar a ideologia saudita pelo mundo por meio de madrassas e mesquitas. Também começou a apoiar os mujahedeen contra os soviéticos no Afeganistão. Hoje o wahabismo cresceu, embora ainda seja minoritário dentro do islamismo sunita (Cairo, Damasco, Istambul, Sarajevo, Jakartas são cidades onde quase não há wahabbitas). Na Arábia Saudita, o wahabismo é imposto pelo regime. Então, se você andar por Riad, achará que todos são wahabbitas, mesmo muitos não sendo. O wahabismo segue uma interpretação ultra radical do Alcorão, o que leva a minorias religiosas e as mulheres, por exemplo, a serem tratadas como cidadãs de segundo classe. E abre espaço para o jihadismo, que culminou no ISIS, na Al Qaeda, no Boko Haram e em outros grupos. Mas, que fique claro, nem todo wahabbita apoia o terrorismo. Inclusive, a Arábia Saudita tem sido alvo do terrorismo do ISIS e é inimiga declarada da Al Qaeda. Para conter estas organizações radicais, a Arábia Saudita deveria comandar uma reforma do wahabismo. E o restante do mundo deveria buscar entender melhor as outras vertentes do islamismo sunita, algumas delas bem moderadas. Não generalizem os muçulmanos como se todos fossem jihadistas. Jihadistas são muçulmanos, mas a quase totalidade dos muçulmanos não é jihadista - e os principais alvos dos jihadistas não são os muçulmanos. O Islã é tão diverso quanto o Cristianismo. Um cristão ortodoxo de Damasco, um evangélico do Brasil, um católico praticante de El Salvador, um Amish da Pensilvânia e um luterano da Alemanha possuem muito pouco em comum. O mesmo ocorre no Islamismo, com diferentes correntes e interpretações. Um luterano na Alemanha não tem de pedir desculpas por uma declaração homofóbica de um deputado evangélico no Brasil. Um católico liberal de Paris não tem nada a ver com um escândalo de pedofilia em Boston. O mesmo vale para o Islamismo. O ex-boxeador Mohammad Ali não tem nada a ver com os terroristas de Paris, embora também seja muçulmano.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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