gustavochacra
23 de novembro de 2015 | 14h59
Mas há sim um crescimento exagerado no terrorismo em nome do Islã nas últimas três décadas, deteriorando a imagem da religião como um todo. Chega a ser chocante saber que o primeiro sunita a cometer um atentado suicida foi em 1992 (um palestino do Jihad Islâmico). Apenas como comparação, o Palmeiras foi campeão brasileiro pela última vez em 1994 (sou palmeirense). Hoje, temos o Boko Haram, o ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh), Al Qaeda, Al Shabab e Taleban, entre vários outros. E todos estes grupos são sunitas e todos são seguidores da vertente wahabbita do islamismo sunita. E, juntos, responsáveis por dezenas de milhares de mortes ao redor do mundo.
Esta vertente wahabbita surgiu no século 18 e foi marginal dentro do islamismo sunita até a Primeira Guerra Mundial. Ganhou força com os Saud se aliando aos britânicos no conflito e, posteriormente, derrotando o Sherif de Mecca, bem mais tolerante, para conquistar a cidade sagrada. Noto que os filhos do sheriff, também aliados do Reino Unido, ganharam de presente o Iraque e a Jordânia. Mas esta é uma outra história.
A Arábia Saudita nasceu de um acordo da família Saud com a ideologia wahhabita, muito forte neste território. Mas não se expandiu para outra regiões de maioria islâmica até os anos 1980. A partir desta data, o regime saudita começou a disseminar a ideologia saudita pelo mundo por meio de madrassas e mesquitas. Também começou a apoiar os mujahedeen contra os soviéticos no Afeganistão. Hoje o wahabismo cresceu, embora ainda seja minoritário dentro do islamismo sunita (Cairo, Damasco, Istambul, Sarajevo, Jakartas são cidades onde quase não há wahabbitas). Na Arábia Saudita, o wahabismo é imposto pelo regime. Então, se você andar por Riad, achará que todos são wahabbitas, mesmo muitos não sendo.
O wahabismo segue uma interpretação ultra radical do Alcorão, o que leva a minorias religiosas e as mulheres, por exemplo, a serem tratadas como cidadãs de segundo classe. E abre espaço para o jihadismo, que culminou no ISIS, na Al Qaeda, no Boko Haram e em outros grupos. Mas, que fique claro, nem todo wahabbita apoia o terrorismo. Inclusive, a Arábia Saudita tem sido alvo do terrorismo do ISIS e é inimiga declarada da Al Qaeda.
Para conter estas organizações radicais, a Arábia Saudita deveria comandar uma reforma do wahabismo. E o restante do mundo deveria buscar entender melhor as outras vertentes do islamismo sunita, algumas delas bem moderadas. Não generalizem os muçulmanos como se todos fossem jihadistas. Jihadistas são muçulmanos, mas a quase totalidade dos muçulmanos não é jihadista – e os principais alvos dos jihadistas não são os muçulmanos.
O Islã é tão diverso quanto o Cristianismo. Um cristão ortodoxo de Damasco, um evangélico do Brasil, um católico praticante de El Salvador, um Amish da Pensilvânia e um luterano da Alemanha possuem muito pouco em comum. O mesmo ocorre no Islamismo, com diferentes correntes e interpretações. Um luterano na Alemanha não tem de pedir desculpas por uma declaração homofóbica de um deputado evangélico no Brasil. Um católico liberal de Paris não tem nada a ver com um escândalo de pedofilia em Boston. O mesmo vale para o Islamismo. O ex-boxeador Mohammad Ali não tem nada a ver com os terroristas de Paris, embora também seja muçulmano.
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