Por outro lado, no futebol, são apenas duas (uma para o masculino e outra para o feminino). O mesmo vale para o vôlei, basquete, handball, rugby, polo aquático e hóquei na grama.
Logo, nações como o Brasil, Argentina, Croácia e Sérvia, com desempenho bom em esportes coletivos, mas ruim nos individuais, acabam por ter uma performance abaixo da de nações focadas em modalidades que distribuem mais medalhas, como a Jamaica no atletismo, e Cuba no boxe, por exemplo - os EUA e França são bons tanto nos coletivos como nos individuais.
A Argentina, na Olimpíada de 2004, conquistou o ouro no futebol e no basquete masculinos. No quadro de medalhas, terminou em 38 lugar, com duas medalhas de ouro, junto com o Uzbequistão, que levou duas de ouro na luta greco-romana. É absurdo. Os argentinos venceram em esportes que têm 11 e 5 atletas respectivamente atuando o tempo todo. Esportes que são literalmente os dois mais populares do mundo.
O correto seria dar medalhas de acordo com o número de atletas participantes. O Uzbequistão manteria seus dois ouros. Mas a Argentina deveria ter recebido 11 medalhas de ouro pelo futebol e cinco pelo basquete. Ao todo, 16. Terminaria entre os primeiros colocados na Olimpíada.
Alguns argumentarão que o sistema atual valoriza esportes que precisam de mais apoio. Sim, é um argumento. Mas não sei até que ponto natação, atletismo e judô possuem menos apoio do que polo aquático, handball, hóquei na grama e até mesmo futebol feminino (com a exceção dos EUA, neste último caso).
Marta e as meninas do futebol têm tudo para conquistar um ouro inédito. Mas valerá apenas "uma medalha". Convenhamos, está errado. A conquista vale 11 ouros.
Sei que este meu texto não levará a nada. Mas é uma defesa da valorização do esporte coletivo. Atuar em times nos ajudam muito. Aprendi bastante e levo para a minha carreira profissional ter jogado esporte coletivo - no caso, polo aquático.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires