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De Beirute a Nova York

Por que escrevo mais sobre a Síria do que sobre Israel-Palestina?

Alguns leitores têm demandado que eu escreva sobre os recentes confrontos entre israelenses e palestinos. De fato, a situação vem se acirrando. Não sei no que vai dar. Só sei que este conflito parece um círculo vicioso e já escrevi centenas de textos sobre o tema aqui no blog. Na minha avaliação, há duas soluções viáveis, independentemente do que esteja acontecendo agora e de quantas sejam as vítimas.

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Por gustavochacra
Atualização:

1. A primeira seria a criação de um Estado palestino tendo como base as fronteiras de 1967. Os principais blocos de assentamento na Cisjordânia ficariam com Israel em troca de terras em outras áreas. Os demais assentamentos ficariam dentro de um Estado palestino e os colonos teriam direito à cidadania palestina ou, se não quisessem, a uma espécie de Green Card. Jerusalém seria uma municipalidade unificada e capital dos dois Estados. No caso palestino, a administração de facto ficaria em Ramallah (tão perto da cidade-velha de Jerusalém quanto o Morumbi da Paulista). Os refugiados poderiam retornar para o novo Estado palestino. As economias poderiam ser interligadas, em uma espécie de mercado comum.

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2. A segunda opção seria um Estado binacional, onde todos são cidadãos de Israel, incluindo os palestinos de Ramallah, Belém e mesmo Gaza. Os judeus poderiam morar onde quisessem, seja em Hebron, seja em Tel Aviv. E os palestinos, assim como já ocorre com os árabes-israelenses, também poderiam viver em Tel Aviv ou Hebron. Neste caso, porém, Israel deixaria de ser um Estado judaico. E haveria uma série de problemas, pois nem a Bélgica obteve sucesso em um Estado binacional.

Os recentes confrontos são, portanto, apenas mais um episódio de um status quo que já dura pelo menos duas décadas. Já tivemos Intifada, guerras em Gaza e poderemos ter mais Intifadas e guerras em Gaza. Também aposto que os leitores irão se degladiar aqui nos comentários para decidir quem está certo e quem está errado e usarão argumentos de décadas atrás, outros distorcidos e alguns com muitos fundamentos.

Já a Guerra da Síria, no entanto, diferentemente do conflito israelense-palestino, não tem solução nos próximos anos. É o maior drama do século 21. Uma nação que morreu. Uma nação de médicos, de engenheiros, de garçons, de pedreiros, de advogados, de professores, de estudantes, de prostitutas, de traficantes, de bandidos, de policiais, de taxistas, de bombeiros, de soldados, de músicos, de jornalistas, de cristãos ortodoxos, de cristãos assírios, de cristãos armênios, de cristãos melquitas, de muçulmanos sunitas, de muçulmanos alauítas e de drusos que era símbolo de estabilidade até cinco anos atrás. Uma nação que hoje é bombardeada por 13 países e possui centenas de milícias. Sim, em Tartus, Lataquia e mesmo em muitas áreas de Damasco a vida é quase normal. Mas Aleppo, a maior cidade, está em ruínas. Homs, a terceira maior, também. Raqaa está nas mãos do ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Idlib, nas mãos da Frente Nusrah, que é a Al Qaeda na Síria e, por algum motivo, chamam de "rebeldes moderados". Há milhões de refugiados se espalhando pelo mundo.

Como conheço bem a Síria, me sinto na obrigação de tentar explicar este conflito. Por este motivo, escrevo mais sobre os acontecimentos no país.

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Nos próximos dias, porém, devo publicar um guia para explicar o que está ocorrendo entre israelenses e palestinos neste momento.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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