Além dos ataques terroristas contra o Hezbollah, na semana passada, um outro atentado matou Mohammad Chatah, uma das mais importantes figuras da coalizão 14 de Março, majoritariamente sunita e opositora do Hezbollah e seus aliados cristãos seguidores de Michel Aoun da coalizão 8 de Março. No ano passado, um outro ataque terrorista matou Wissam al Hassan, ex-chefe da inteligência libanesa e também da 14 de Março.
Portanto, nos dois últimos anos (de 2012 até hoje), foram seis atentados no Líbano, sendo 4 deles contra o Hezbollah e 2 deles contra a 14 de Março. Apenas o atentado contra a Embaixada do Irã tem um suspeito - um saudita integrante da Al Qaeda
Outubro de 2012
Alvo - Wissam al Hassan, da 14 de Março
Mortos - 4
Julho de 2013
Alvo - Área do Hezbollah em Beirute
Mortos - 0
Agosto de 2013
Alvo - Área do Hezbollah em Beirute
Mortos - 27
Novembro de 2013
Alvo - Embaixada do Irã em Beirute, em área do Hezbollah
Mortos - 27
Dezembro de 2013
Alvo - Mohammad Chatah, da 14 de Março
Mortos - 5
Janeiro de 2013
Alvo - Área do Hezbollah
Mortos - 5
Antes desta série de atentados, o Líbano estava relativamente calmo desde 2008, sem grandes ataques terroristas em 2009, 2010 e 2011. Foram quatro anos de calma. Entre 2005 e 2008, o Líbano sofreu uma onda de atentados maior do que a atual.
Por que, então, ocorrem atentados terroristas agora?
1) O principal motivo é a Guerra da Síria. Mas esta, por si só, não justificaria os atentados. Afinal a Jordânia e a Turquia, por enquanto, não foram atacadas. Dois fatores contribuem para o aumento dos atentados
2) O envolvimento do Hezbollah na Guerra da Síria para defender o regime de Bashar al Assad enfrenta oposição de outras facções libaneses, especialmente sunitas
3) O Líbano viu um crescimento de salafistas (radicais sunitas) com um uma agenda anti-Hezbollah nos últimos anos. Eles são aliados de grupos ligados à Al Qaeda na Síria que lutam contra Assad. Muitos não são sequer libaneses. Há tanto refugiados sírios como também radicais de outros países da região. O atentado contra a Embaixada do Irã em Beirute foi cometido por um saudita afiliado à Al Qaeda
4) Por último, os sunitas seculares libaneses estão um pouco órfãos. Saad Hariri, seu líder, está vivendo exterior por temer, com razão, pela sua vida caso retorne à Beirute. Outras parcelas da população sunita, especialmente em Trípoli e Sidon, tem se radicalizado, com seus xeques pregando agendas contra os xiitas do Hezbollah e também cristãos
Para simplificar, o Líbano tem os seguintes conflitos em andamento
1) Irã versus Arábia Saudita
2) Hezbollah versus Al Qaeda
3) Xiitas versus Sunitas
4) 8 de Março (xiitas e facções cristãs) versus 14 de Março (sunitas e outras facções cristãs)
5) Defensores de Assad versus Inimigos de Assad
Muitos destes conflitos descritos acima acabam se intercalando. Mas, diante deste cenário, o que pode ocorrer agora?
Ninguém, dos grandes grupos libaneses, quer uma guerra civil. Mas a instabilidade tende a se acentuar, com novos atentados terroristas.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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