Por outro lado, nunca as nações árabes e Israel viveram um momento de relações tão bom como o atual. Ambos possuem interesses em comum, como conter a expansão geopolítica do Irã para o restante do Oriente Médio. E estão dispostos a um acordo que favoreça a todos, incluindo os palestinos.
Esta negociação, como dizem diplomatas experientes, seria de fora para dentro, em vez de dentro para fora. Israel negociaria com os governos árabes, com mediação americana, para posteriormente negociar com os palestinos. Países como a Arábia Saudita passariam a ter uma relação com os israelenses não muito diferente da existente entre Israel com o Egito e a Jordânia.
As nações árabes, assim como Israel, sabem que Trump não tem conhecimento algum da região. Mas todas têm usado todos os meios possíveis para evitar que o presidente americano atrapalhe. Inclusive, avaliam que ele pode até ajudar.
A Jordânia, por meio do rei Abdullah, teria conseguido convencer Trump a pelo menos postergar a decisão de transferir a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O monarca jordaniano seria um dos maiores prejudicados pela mudança, pois enfrentaria enormes protestos em seu país. A Arábia Saudita, também junto com os jordanianos, está por trás da ação para o governo Trump condenar a expansão de assentamentos na Cisjordânia para fora dos atuais limites.
O premiê Benjamin Netanyahu não ficou insatisfeito. Na verdade, até gostou e também avalia que a mudança da embaixada e a expansão dos assentamentos neste momento seriam prejudiciais. O líder israelense tem investido muito na melhora nas suas relações com nações de maioria islâmica não apenas do Golfo, como também da ex-União Soviética.
Claro, uma negociação envolvendo Israel e as nações do Golfo não seria simples. Mas os israelenses se sentiriam mais seguros em negociar com Estados nacionais (basta ver Jordânia e Egito) consolidados do que com a frágil Autoridade Palestina. Em caso de acordo, teria o respaldo dos sauditas para implementação.
E por onde começar? A Liga Árabe diz, desde 2002, que estabeleceria relações diplomáticas com Israel em troca da retirada de Israel dos territórios ocupados na Guerra de 1967 e uma solução para os refugiados. Os israelenses não têm obrigação nenhuma de aceitar. Mas devem encarar isso como uma proposta inicial e responder com uma contraproposta.
Talvez não dê certo, claro. Mas vale mais a pena, neste momento, para Israel, negociar com Estados nacionais árabes, como a Arábia Saudita, do que com a Autoridade Palestina ou, pior, não negociar com ninguém.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires