O que aproxima, neste momento, Israel, Arábia Saudita e Trump é a oposição ao Irã. Dentro do Oriente Médio, israelenses, sauditas, bairenitas e outros consideram o regime de Teerã uma ameaça maior neste momento do que o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Não que eles simpatizem com o ISIS. Todos estes governos consideram o grupo um inimigo. Mas o ISIS não tem a menor capacidade de ameaçar Israel ou a Arábia Saudita e, mais importante, não para de apanhar no Iraque e na Síria.
O problema é que os EUA, a Arábia Saudita e Israel temem que o Irã saia vitorioso justamente na Síria e no Iraque com o colapso do ISIS. Afinal, em Damasco e Bagdá, há governos aliados de Teerã - verdade que o iraquiano também é aliado de Washington.
Israel se sente ameaçado porque o Irã apoia o Hezbollah no Líbano. E o grupo xiita libanês tem capacidade de provocar enormes estragos em Israel caso haja uma futura guerra - falo em milhares de mortos em Tel Aviv, Haifa e em todo o norte israelense. Já a Arábia Saudita disputa uma guerra geopolítica e ideológico com os iranianos no Oriente Médio.
Para os EUA, no entanto, talvez este fosse um momento de tentar buscar uma maior aproximação com o Irã, aproveitando que dezenas de milhões de iranianos foram às urnas para reeleger um presidente moderado e reformista. Foi, de uma certa forma, o que Obama fez e obteve sucesso com o acordo nuclear. O problema é que, ao agir assim, há risco de os EUA deixarem Israel ainda mais vulnerável. No caso saudita, não sei muito bem o que os EUA ganham, a não ser bilhões de dólares com a venda de armas. Afinal, quem difunde a ideologia wahabbita do islamismo sunita, utilizada pelo ISIS, Al Qaeda, Boko Haram, Al Shebab e Taleban, é o regime absolutista da Arábia Saudita, uma nação que restringe os direitos de gays, mulheres e minorias religiosas.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires