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Quando os Estados Unidos suspeitam de alguém ser envolvido com terrorismono Yemen ou no Paquistão, um drone é enviado para um ataque seletivo contra esta pessoa supostamente ligada à Al Qaeda ou a outras organizações similares. Não existe um processo e tampouco garantia de que este indivíduo ou indivíduos realmente sejam envolvidos com planos de um ataque terrorista e representem uma ameaça a americanos.
Dzhokhar Tsarnaev, um dos suspeitos pelo atentado em Boston, tinha 19 anos, era carismático, bom atleta e estudava na Universidade de Massachusetts. Ele representava, porém, uma verdadeira ameaça aos EUA. De acordo com as próprias autoridades americanas, ele, junto com o irmão Tamerlan, realizou o ataque terrorista na maratona.
Meu comentário na TV Estadão
Naturalmente, muitos começaram a questionar sobre as diferenças entre Dzokhar e os suspeitos de terrorismo no Yemen. Ninguém usou um Drone para bombardear o barco onde ele estava escondido em Watertown, nos subúrbios de Boston. Muito menos contra a Universidade de Massachusetts, onde ele vivia em um dormitório estudantil. Afinal, o jovem terá direito a um julgamento na justiça civil. Além disso, no bombardeio, talvez os moradores das casas vizinhasou seu roommate no dorm também morressem.
É admirável ver como a Justiça americana funciona, concedendo ao suspeito de terrorismo um defensor público formado em Yale e fluente em russo. Dzhokhar terá toda a chance de se defender das acusações e, se for o caso, até provar a sua inocência ou conseguir prisão perpétua em vez de pena de morte - o nigeriano que tentou explodir um avião em Detroit não pegou pena capital, por exemplo.
Pena que os moradores do Yemen e do Paquistão não têm o mesmo direito. Ser suspeito de terrorismo significa ser condenado à morte. Ser vizinho de um deles, idem.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires