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De Beirute a Nova York

Por que Netanyahu está errado na briga com Obama?

O discurso de Benjamin Netanyahu no Congresso dos EUA é ruim para a política doméstica de Israel, é ruim para a política doméstica dos EUA, é ruim para a política externa de Israel e é ruim para a política externa dos EUA.

Por gustavochacra
Atualização:

Primeiro, na política doméstica israelense, há uma eleição dias depois do discurso. Não é certo um político usar de palanque o Congresso dos EUA para posar de estadista, sendo que os seus rivais na oposição não possuem a mesma oportunidade.

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Em segundo lugar, na política doméstica dos EUA, Netanyahu adota um dos lados - o dos republicanos. Um líder estrangeiro, porém, deve evitar se envolver em questões internas de países aliados. Seria como se o presidente Barack Obama aceitasse discursar no Knesset em Israel a convite da opositora Tzipi Livni e sem consultar Netanyahu - lembrando que, nos EUA, o Congresso é controlado pela oposição, diferentemente de Israel, onde vigora o regime parlamentarista. Netanyahu, sem querer ou de propósito, fez o jogo dos opositores republicanos.

Terceiro, Netanyahu rompe com uma tradição de política externa de Israel nos EUA, de sempre ser bipartidária, aliada dos partidos Democrata e Republicano. A atitude do premiê irritou inclusive senadores e deputados democratas (incluindo judeus, que são todos democratas no Congresso, a não ser por um republicano) com históricos de votos 100% a favor de Israel. Oito em cada dez judeus nos EUA votam democrata. Para que tratar os democratas desta forma?

Por último, Netanyahu interfere na política externa dos EUA. Obama tem como prioridade chegar a um acordo com o Irã para impedir o regime iraniano de ter a bomba atômica por vias diplomáticas. Enquanto seu antecessor, George W. Bush, em ao derrubar do poder seus inimigos Saddam Hussein, no Iraque, e o Taleban, Afeganistão, ajudou Teerã, Obama implementou o maior regime de sanções da história contra o regime no Irã. Levou adiante táticas de espionagem e uma bem sucedida guerra cibernética e de sabotagem, em coordenação com Israel, que atrasou o avanço nuclear iraniano.

O atual acordo interino vem sendo ultra bem sucedido e congelou o programa nuclear do Irã. Segundo Netanyahu, um acordo final, que não é negociado apenas pelos EUA, mas também pela Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha, permitirá que o regime de Teerã tenha uma bomba atômica. Mas, na verdade, um acordo, se este vier a ser assinado, impedirá o Irã de ter uma arma nuclear.

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Em 2002, como lembrou nesta semana o secretário de Estado, John Kerry, Netanyahu veio ao Congresso dos EUA e defendeu uma invasão americana ao Iraque. Na época, ele era um cidadão comum. Mas, com sua inteligência e carisma, influenciou os votos de muitos deputados e senadores na desastrosa guerra que fortaleceu o Irã e a Al Qaeda (embora os iranianos sejam inimigos da rede terrorista de Bin Laden). Anos atrás, Netanyahu veio aos EUA e, na ONU, afirmou que o Irã estava a menos de um ano de produzir uma bomba, apesar de o Mossad (serviço secreto de Israel) dizer o contrário, de acordo com documentos vazados nesta semana.

Netanyahu já virou tema de piada em Nova York - como diz o comediante Jon Stewart, um judeu liberal e possivelmente o maior formador de opinião americano, faz dez anos que o Irã está a uma década de ter uma bomba atômica.

O atual premiê de Israel não é um estadista. Ele não é um Yitzhac Rabin ou um David Ben-Gurion. Tampouco um Ariel Sharon ou um Shimon Peres. É apenas um premiê que pode levar Israel para um embate inútil contra os EUA apenas para atingir seus objetivos eleitorais. Se quisesse mesmo impedir o acordo, e ele tem o direito de achar ruim o acordo em negociação (pessoas sérias também esta visão), deveria usar os canais que Israel sempre usou - buscar conversar nos bastidores com Obama, com Kerry e com quer que seja para expor a sua opinião e convencê-los. Qualquer premiê de Israel deve ter o presidente dos EUA como aliado, não como inimigo. Obama não é um Hosni Mubarak. Nem mesmo um Chirac ou Berlusconi. É o presidente dos Estados Unidos da América, eleito e reeleito, goste dele ou não.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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