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De Beirute a Nova York

Por que o Genocídio Armênio ocorreu na Grande Guerra?

Por que o genocídio armênio, que completou 101 anos nesta semana, ocorreu justamente durante a Primeira Guerra Mundial? Porque naquele momento emergia a noção de um Estado nacional, de uma nação homogênea, da mesma etnia, da mesma religião e falando a mesma língua. Isso ocorria na Europa e os Jovens Turcos, ainda durante o ocaso do Império Otomano, levaram estas ideias para o povo turco.

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Por gustavochacra
Atualização:

Por séculos, para padrões da época, os armênios viviam relativamente bem dentro do Império Otomano, comandado por um sultão muçulmano sunita, mas também com minorias judaicas, cristã armênia e cristã grego-ortodoxa, além de xiitas, entre outras religiões. Judeus, grego-ortodoxos e armênios possuíam os millets, que permitiam que eles tivessem uma autoridade máxima de dentro da sua própria religião, que seria o grã-rabino ou os patriarcas.

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O Império Otomano, com todos os seus defeitos, era multicultural e multinacional. Tinha povos da Europa, como os búlgaros, os sérvios, os albaneses. Tinha povos do mundo árabe. Tinha os turcos, os curdos e os armênios. Tinha cristãos, judeus e muçulmanos. Cidades como Istambul, Salônica, Smyrna (Izmir), Alexandria, Aleppo, Damasco e Beirute eram algumas das mais cosmopolitas do mundo. Enquanto a Europa era apenas a chamada "cristandade", com uma perseguida minoria judaica, o Império Otomano era cosmopolita, recebendo os judeus sefaradis perseguidos na Inquisição ibérica.

O fim desta ideia de multiculturalismo começou a ocorrer no fim do século 19 e começo do 20 no Império Otomano, com muitas Províncias do Império Otomano na Europa conquistando a independência para formar Estados nações. Neste momento, começaram os massacres de armênios que culminariam no genocídio, pois a ideia de nação "turca" começava a ganhar força e os armênios, assim como os curdos e os grego-ortodoxos não faziam parte dela. Os curdos, embora muçulmanos, não eram da etnia turca e desde então são perseguidos. Os armênios foram massacrados. Cerca de 500 mil grego-ortodoxos foram em sua maioria obrigados a irem para a Grécia, que os trocou por 1 milhão de habitantes muçulmanos no que ficou conhecido como Catástrofe.

O genocídio armênio, assim como a catástrofe grega e a perseguição aos curdos significou o fim do mundo otomano. Basicamente, a morte do mundo plural dos otomanos, com resquícios apenas em Beirute (Líbano) e Haifa (Israel) nos dias de hoje. E a morte do Mundo Otomano, assim como o genocídio armênio, a catástrofe grega e a perseguição aos curdos culminariam no nascimento da República Turca de Mustafa Kemal Ataturk em meados dos anos 1920, na turca Ankara, e não cosmopolita Istambul.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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