Eles não são condenados a nada. A maior parte deles já foi considerada inocente pela própria Justiça militar. Dos 166 detidos em Guantánamo, apenas seis foram condenados. Algumas dezenas são suspeitas, mas não há como promotores apresentarem casos contra eles. Os demais poderiam estar livres. E estariam, se Obama tivesse cumprido a sua promessa.
Mas Obama, lamentavelmente, não cumpriu. A pressão internacional e doméstica para fechar Guantánamo, existente contra George W. Bush, se reduziu depois da eleição do atual presidente. Muitos se esqueceram que existia esta vergonha prisão americana, na qual a Constituição dos EUA parece ter sido jogada no lixo, com os detidos sendo submetidos a tortura.
Em entrevista coletiva que marca o seu centésimo dia de mandato, Obama afirmou nesta quinta mais uma vez "que fechará Guantánamo" e voltou a culpar o Congresso pelo fracasso. Chega a ser patético. Por que não fechou antes? Por que cedeu a senadores e deputados em vez de cumprir o que prometeu na campanha e respeitar os direitos humanos? Por que acabou com o escritório responsável por elaborar um plano para fechar a pressão?
Como bem lembra Joe Nocera, colunista do New York Times, 56 prisioneiros de Guantánamo de origem iemenita estava prontos para ser libertados anos atrás. "Mas o Congresso, liderado pelos senadores John McCain e Lindsay Graham, aprovou leis que tornou impossível a libertação deles. Vergonhosamente, Obama assinou estas leis", escreveu.
O presidente parece ter imaginado que o tema Guantánamo ficaria esquecido eternamente e, assim, poderia se concentrar em suas prioridades domésticas e mesmo externas, como os seus ataques seletivos com Drones, como são chamados os aviões não tripulados utilizados para bombardear o Paquistão e o Yemen.
A greve de fome, porém, trouxe de volta à tona o problema destes homens que vivem em um limbo, segundo as palavras do próprio presidente. É urgente que eles tenham direito à liberdade ou, pelo menos, um julgamento justo nos EUA.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires