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De Beirute a Nova York

Por que os assentamentos aumentam o isolamento de Israel?

Um episódio envolvendo a decisão da Orange, uma gigante da telefonia francesa, de pedir a retirada de sua marca por parte da empresa israelense Partner pode ser um divisor de águas que demonstra um crescente isolamento internacional de Israel.

Por gustavochacra
Atualização:

Segundo o CEO da Orange, os investimentos da Partner em assentamentos judaicos na Cisjordânia poderia entrar em choque com negócios da empresa de telefonia francesa em outros países, especialmente os árabes, além dos riscos de processo na França por operar em lugares ocupados ilegalmente. Mais tarde, a empresa, tentando amenizar as declarações, afirmou que a decisão de se retirar de Israel não era política.

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Embora o episódio da Orange não esteja claro, em uma série de áreas, como na acadêmica, Israel vem sofrendo boicote motivado pelo movimento conhecido como BDS. O objetivo deste grupo, que conta com cada vez mais adeptos, seria associar Israel à África do Sul Apartheid ou, pelo menos, os assentamentos na Cisjordânia ao regime racista.

Por enquanto, Israel está longe de um isolamento similar ao sul-africano. Mantém boas relações com as grandes potências, como os EUA, Rússia (Putin se dá muito bem com Netanyahu), China, França e Grã Bretanha. Mas o governo de Benjamin Netanyahu observa uma deterioração nas suas relações com os americanos. A imagem do país, entre os jovens, piorou. Dezenas de deputados se recusaram a ver o premiê israelense discursar no Congresso, em uma mudança drástica para o único país com quase unanimidade em Washington, a não ser por alguns libertários (que não são anti-Israel, mas criticam o uso de impostos para ajudar outros países). Os principais governos europeus, por sua vez, não toleram a ocupação dos territórios palestinos.

Israel tende a responder a este crescente isolamento com campanhas de relações públicas. Mostrarão que o país é ameaçado por terroristas e, ao mesmo tempo, trata-se de um bastião de democracia no Oriente Médio (embora o Líbano também seja democrático).

Sem dúvida, esta ação irá ajudar a retardar um pouco o isolamento ou até reverter em alguns casos. Mas a ocupação da Cisjordânia será cada vez menos tolerada. Por muitos anos, falou-se que Israel não teria condições de ser democrático, judaico e possuir todo o território.

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Para ser democrático e judaico, Israel precisaria sair da maior parte da Cisjordânia e encerrar o bloqueio a Gaza - neste caso, ajudaria muito se o Hamas suspendesse o lançamento de foguetes contra civis. O problema é que o atual governo israelense, como o próprio presidente Barack Obama diz, não tem interesse em encerrar a ocupação.

Caso insista em manter os assentamentos, Israel poderá sim continuar como uma democracia, desde que conceda cidadania aos palestinos residentes na Cisjordânia. O custo, porém, será elevado e poderá culminar no fim do caráter judaico do país. Além disso, até o Canadá e a Bélgica possuem dificuldade em ser Estados binacionais.

A opção de manter a ocupação atual como um status quo sem fim levaria o isolamento a um ponto de não retorno. A decisão da Orange talvez tenha sido este momento. Vamos aguardar. O triste é ver alguns amigos meus israelenses que se opõem a Netanyahu e se opõem à ocupação terem de pagar o custo dos assentamentos não apenas com impostos e com suas vidas no serviço militar para garantir a segurança de fanáticos, como também com o isolamento internacional.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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