Obama, Putin e Rouhani podem não concordar em uma série de temas envolvendo a segurança internacional. Mas os três deixaram claro considerar o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh, a maior ameaça para a estabilidade do Oriente Médio. E os três já integram coalizões internacionais que lutam contra esta organização ultra-extremista.
A diferença, como já escrevi aqui uma série de vezes, está em apoiar ou não Bashar al Assad como arma para derrotar o ISIS. Os russos e os iranianos avaliam não haver outra alternativa ao líder sírio neste momento. Caso Assad seja deposto, o ISIS, a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) ou o Jaysh al Islam (Exército do Islã) sairiam fortalecidos. A oposição armada moderada praticamente não existe mais. São todos radicais religiosos.
Os EUA também consideram as alternativas a Assad péssimas. Ao mesmo tempo, a administração Obama não tem como, domesticamente, apoiar o líder sírio depois de tê-lo acusado de crimes contra a humanidade - que, segundo a ONU, ele realmente cometeu.
A solução parece ser os EUA não imporem obstáculos ao apoio russo a Assad. Ao mesmo tempo, devem intensificar os bombardeios contra o ISIS em Raqaa (Síria) e dar suporte para o Exército do Iraque e os guerreiros Pesh Merga no território iraquiana. Quando e se houver mais estabilidade no médio e longo prazo, os americanos podem tentar influenciar uma transição na Síria que não envolva o colapso total do regime.
Na Segundo Guerra, Hitler dificilmente seria derrotado se os EUA não se aliassem aos soviéticos. Com o ISIS, o cenário é similar. Esta organização dificilmente perderá caso não haja uma parceria americana com a Rússia e o Irã.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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