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De Beirute a Nova York

Por que somos hipócritas ao ignorarmos náufragos da África?

Foram cerca de 240 mortos no naufrágio de um barco que levava imigrantes africanos da Líbia para a África nesta semana. Um número ignorado por boa parte do planeta. Não haverá memorial para estas vítimas. Não saberemos de suas vidas. Morreram no Mediterrâneo em busca de uma vida melhor. Muitos leitores nem devem saber desta tragédia. Não sai na mídia. Não recebeu um centésimo da cobertura do atentado terrorista em Londres. Eu soube porque minha profissão é acompanhar notícias do mundo. Mas, hipocritamente, também me dediquei apenas a falar do terrorismo.

Por gustavochacra
Atualização:

Sim, haverá aqueles que choram por estas vítimas do naufrágio. Seus parentes e amigos. Como não encontrei nenhum relato de quem são os mortos, diferentemente do que ocorreria na queda de um avião ou no naufrágio de um navio de cruzeiro, tenho de imaginar.

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Tenho de imaginar uma professora no Congo que se despediu dos alunos antes de cruzar o continente e a bélica Líbia, pagando coiotes, até embarcar para a Europa e fazer a vida em Berlim. Tenho de imaginar o pai que se despediu dos filhos para tentar trabalhar em Londres e sustentar a família no Níger. Tenho de imaginar o jogador de futebol de 19 anos da Eritreia com a camisa do Real Madrid sonhando em ser um craque no futebol europeu. Tenho uma família desesperada largando a sua casa e suas terras para fugir do conflito na República Centro-Africana. Tenho de imaginar uma mãe com o filho de seis anos, a filha de quatro e o caçula de 10 meses desesperada para encontrar o marido que trabalha em um restaurante em Milão.

Poucos ligam para os 5 mil imigrantes que morreram afogados nas águas do Mediterrâneo no ano passado. Fingimos que não vemos. "São africanos". E nós somos um monte de hipócritas.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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