O Partido Republicano, assim como o Partido Democrata, não é uma organização monolítica. Em um sistema bipartidário, os partidos acabam englobando diferentes correntes. Estas correntes se dividem dependendo do tema. No caso da saúde, havia três principais dentro do Partido Republicano.
Primeiro, a do Freedom Caucus, que é purista na questão de não querer intervenção estatal, na redução dos gastos e dos impostos. Em segundo lugar, tem a moderada, que vê bons pontos no Obamacare, defendendo mais uma corrigir, e não repelir o plano. Por último, há a nacionalista de Trump. Quando Obama era presidente, era fácil unificar as três para repelir o Obamacare pois sabiam que se tratava de algo mais simbólico, pois o presidente era Obama.
Agora, controlando as duas casas do Congresso e a Casa Branca, os republicanos precisavam apresentar uma alternativa para repelir o Obamacare. Ryan, com o apoio de Trump, apresentou um plano que desagradou o Freedom Caucus, por um lado, e os moderados, do outro. Para o Freedom Caucus, a proposta de Ryan era insuficiente. Para os moderados, exagerada.
Trump tentou negociar. Mas o Freedom Caucus é unido e age quase como um partido independente. O presidente, apesar de se auto-descrever como um gênio das negociações, não conseguiu quebrar esta unidade do grupo. E a proposta de Ryan fracassou.
Como o próprio Trump diz ter descoberto ao se eleger presidente, a questão da saúde nos EUA é extremamente complexa. O Obamacare está longe de ser perfeito, mas foi uma solução que o então presidente encontrou ao se inspirar em um republicano, Mitt Romney, quando este fez a reforma da saúde em Massachusetts quando era governador. Ainda assim, conseguiu expandir o seguro saúde para milhões de pessoas. Em contrapartida, segurados anteriormente viram os preços de seus planos subirem.
Alguns, mais à esquerda do Partido Democrata, como Bernie Sanders, dizem que o governo deveria garantir saúde universal, como já ocorre em quase todas as nações desenvolvidas do mundo. Outros, mais à direita do Partido Republicano, como no Freedom Caucus, avaliam que o governo apenas atrapalha. É uma discussão com fortes argumentos que vale ser acompanhada.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires